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A emoção de telefonar barato

Augusto Valente19 de abril de 2003

O monopólio da Telekom alemã sobre as ligações locais termina em 25 de abril. A partir de então começa mais um capítulo na breve história de um dos mercados de telecomunicações mais dinâmicos do mundo.

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Uma paixão nacional está cada vez mais mais barataFoto: AP

Desde a liberalização do mercado de telecomunicações na Alemanha, em 1998, o setor tem provado uma vitalidade espantosa. Pode-se falar de uma mudança da água para o vinho: do conformismo total com a inércia da Deutsche Telekom e sua salgada política de preços, o consumidor alemão passou a uma atitude quase predatória. Um centésimo de cent a menos pode ser o motivo para ele trocar de operadora, entre um telefonema e outro.

Mas antes, as prestadoras de serviços telefônicos precisaram descobrir e despertar a fera adormecida. A Alemanha adotou um modelo de liberalização quase único no mundo. Com gastos mínimos, praticamente qualquer pessoa pode conectar-se à rede da Deutsche Telekom, pagar pela utilização da linha uma pequena tarifa, oferecer serviços call-by-call (sem registro do cliente, taxas mensais ou obrigações contratuais) e viver dos lucros. E todo o aparato de pagamento corre por conta da operadora da ex-monopolista. Um detalhe importante, pois cobrar tarifas é coisa cara.

Este tópico é um calo no pé da Telekom e de outras operadoras "de verdade". Como expõe Roman Schwarz, diretor-geral na Alemanha e Suíça da multinacional Tele2: "A loja de departamentos Karstadt não assume a contabilidade para o supermercado Aldi, nem os passageiros pagam suas passagens pela Lufthansa, quando querem voar com a barateira Ryan Air".

Avareza incentivou a concorrência

De início, a abertura só se aplicou às ligações à distância. As operadoras baratas proliferaram, cada uma superando a outra com preços incrivelmente módicos: precedida do prefixo mágico, uma ligação para o Brasil chega por vezes a custar 7 cents por minuto. Um verdadeiro escândalo, em comparação com o 1,47 euro exigido, antes de 1998, pela Telekom, que agora também entrou na concorrência.

Muitas das firmas-relâmpago logo desapareceram do mercado selvagem, porém algumas sobreviveram e continuam lucrando com a "pão-durice" do usuário alemão. A rigor, a proliferação foi apenas aparente: um exame mais atento revela que o número das prestadoras do serviço call-by-call realmente independentes é bem inferior à quantidade dos prefixos e dos nomes inconfundíveis como TeleDiscount ou Phonedump. Quase todas possuem pelo menos mais uma subsidiária. E existem mesmo grandes famílias: quase 20 das 40 firmas ou marcas atuais agrupam-se em torno de duas companhias limitadas: a 015051 Telecom e a 01058 Telecom. Camuflagem também tornou-se parte do negócio.

Novidades de hora em hora

O mercado telefônico alemão de hoje lembra a bolsa de valores. As operadoras mudam suas tarifas até 30 a 40 vezes por dia, na ânsia de satisfazer a insaciável sede de poupar. Toda essa presteza esconde também, por vezes, um golpe baixo: parte das "ofertas especiais" só tem validade por algumas horas, e a conversa sairá bem mais cara do que espera o usuário. Em defesa da própria credibilidade, as firmas mais sérias confirmam a tarifa através de uma voz gravada, antes de completar a ligação.

Toda essa agilidade criou um outro problema para o consumidor: como saber se o prefixo que está discando é realmente o mais barato de todos, neste exato momento? Foi preciso a internet colocar à sua disposição um aliado indispensável: as calculadoras de tarifas. Sites como billiger-telefonieren.de ou teltarif.de prestam o inestimável meta-serviço de pesquisar detalhadamente as ofertas mais vantajosas, de acordo com o local para onde se telefona, o horário, a duração média da conversa, etc.

Telefonar na Alemanha tornou-se definitivamente um convite à criatividade: fanáticos da técnica descobriram até mesmo como driblar a limitação da liberalização às chamadas de longa distância. Eles conseguem agora o que oficialmente só será possível a partir de 25 de abril: telefonar dentro da própria cidade, bem mais barato do que agradaria à Telekom.