A difícil mudança de mentalidade
3 de janeiro de 2003A conjuntura econômica deixa a desejar; os cofres públicos apresentam rombos por toda parte; o sistema social, inflacionado, está ameaçado de colapso: estes são alguns dos fatores a contribuir para o pessimismo dos alemães no momento. Um pessimismo exagerado, contra o qual o presidente Johannes Rau adverta, afirmando que a situação não está tão ruim como os ânimos fazem imaginar.
A atuação pouco feliz do governo reeleito em setembro, com anúncios precipitados de reformas — sem dúvida necessárias —, não contribui para melhorar a situação. Pelo menos o chanceler federal, Gerhard Schröder, resolveu preparar os espíritos, em seu discurso na passagem do ano: "Estamos no começo de um caminho penoso, mas vamos conseguir ir até o fim com sucesso". Resta esperar se o governo vai conseguir impor suas decisões com maior firmeza daqui em diante.
Primeiras provas de fogo
As próximas eleições estaduais já estão praticamente às portas: a 2 de fevereiro, as populações de Hessen e da Baixa Saxônia vão eleger suas assembléias legislativas. As pesquisas de intenção de voto apontam para grandes perdas para o Partido Social Democrático (SPD), do chanceler federal Schröder. Os eleitores deverão expressar dessa forma sua decepção com a performance da coalizão de governo em Berlim.
Uma derrota do SPD na eleição na Baixa Saxônia, onde os social-democratas governam atualmente, terá conseqüências negativas também para a atuação do governo federal. Este depende, em grande parte dos projetos de lei, da aprovação da câmara alta do Legislativo, o Bundesrat, que é a representação dos estados. Com maioria nessa câmara, a oposição certamente vai bloquear muitas das reformas necessárias, colocando mais pedras ainda no caminho da coalizão.
Círculo vicioso
Diante de perspectivas como essas, é de se perguntar até que ponto terá efeito o apelo de Gerhard Schröder: "Precisamos mudar as mentalidades na Alemanha. É claro: somos um país rico e queremos continuar sendo. Mas é preciso que todo mundo saiba: só podemos continuar sendo ricos se cada um não ficar apontando para o outro, se cada um estiver disposto a mudanças por si próprio. E é tarefa dos políticos — afinal não deixa de ser minha tarefa — despertar a vontade de mudar".
É verdade que a população comemorou o revéillon com muitos fogos de artifício. Mas o que se ouve por toda parte são lamentações e ceticismo. Uma situação em que não é fácil para os governantes acender uma centelha de entusiasmo, com suas idéias e projetos. A Alemanha no começo do ano 2003 é uma nação em compasso de espera.