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A "caça" da ultradireita na Alemanha

Astrid Prange de Oliveira | Autorenfoto DW Brasil
Astrid Prange de Oliveira
8 de setembro de 2021

Ela se faz de vítima, mas ataca. Xinga a "imprensa da mentira", mas publica fake news. A populista AfD faz parte da Alemanha, assim como os problemas que instrumentaliza. Mas seu auge político parece ter passado.

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Cartaz azul, com seta ascendente vermelha, escrito AfD
Estratégia polícia agressiva tem valido altos e baixos eleitorais para Alternativa para a AlemanhaFoto: Hendrik Schmidt/ZB/dpa/picture alliance

Que força têm os ultradireitistas na Alemanha? Diante do pleito legislativo de 26 de setembro, grassa o medo de um sucesso eleitoral do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem fama de quebrador de tabus e radicalismo político.

E que coloca a Alemanha diante do espelho. Pois a sigla e seus adeptos arranham a fachada de um país europeu que se pensa cosmopolita, liberal e inovador, mostrando que uma parcela não negligenciável da população defende valores e reivindicações que não combinam com essa imagem.

Sim, na Alemanha há cidadãos que não querem receber refugiados de regiões de crise e guerra. Há os que negam e minimizam o coronavírus. E há quem ache que o país deveria abandonar o euro, a moeda comum europeia, como exige a AfD em seu programa partidário.

De mãos dadas com Bolsonaro

E, claro, na Alemanha também há seguidores de Donald Trump e Jair Bolsonaro. O encontro entre a vice-presidente da AfD, Beatrix von Storch, e o presidente do Brasil, em julho, mostra até que ponto avançou a rede internacional de conexões dos ultradireitistas.

E mostra também que a ultradireita alemã está contente com o respaldo de Brasília. A ambígua estratégia de radicalização e minimização da AfD vinga em muitos locais e repetidamente. Também no Brasil.

Na Alemanha, a AfD experimenta altos e baixos com essa estratégia. Ainda nas eleições estaduais da Saxônia-Anhalt, em 6 de junho, calculara-se que obteria 25% dos votos. Na realidade, teve um desempenho considerável, mas seus 20% ainda estiveram bem abaixo dos 37% da conservadora União Democrata Cristã (CDU), de Angela Merkel.

Nas pesquisas de intenção de voto para o próximo pleito legislativo, a AfD emplaca entre 11% e 12%, estando em quinto lugar na preferência do eleitorado, antecedida pelo Partido Social-Democrata (SPD), a CDU, o Partido Verde e o Partido Liberal Democrático (FDP).

As cifras mais para modestas no nível federal se devem, entre outras razões, às numerosas disputas internas de orientação na AfD, já que a luta de poder com a ala extremista Der Flügel – formalmente dissolvida em 2020, mas ainda existente como rede – prejudicou o partido.

Continua a "caça" da AfD?

Então o medo da AfD é injustificado? Ela está condenada a uma existência pífia, na margem extrema da direita, como desejam muitos de seus opositores? Provavelmente não. Pois, com seus temas, o partido segue muitas vezes definindo a agenda política.

Por exemplo, no que diz respeito aos refugiados: desde o ataque a facadas de um afegão contra uma mulher, no último domingo (05/09), em Berlim, o assunto está novamente presente na esfera pública. Segundo pesquisas da revista Der Spiegel, o jovem de 29 anos chegara na Alemanha em 2015, sendo deportado no ano seguinte. Após uma breve proibição de ingresso, retornou ao país, voltou a requerer asilo e em outubro de 2017 foi reconhecido como refugiado.

"Há anos a AfD adverte contra a importação de refugiados criminosos para a Alemanha", escreveu no Twitter o deputado Stephan Protschka, do partido, queixando-se: "O ingresso de delinquentes de culturas de cunho arcaico é um fato pelo qual somos diariamente tachados de racistas."

É significativa essa frase. Pois a AfD, no seu discurso político, não foca nas vítimas ou em soluções, mas vê a si própria como "vítima". Alegando combater a "imprensa da mentira" e o "sistema Merkel", ela se vê como único partido de oposição que é discriminado por levantar pautas polêmicas.

Sua estratégia foi e é bem-sucedida: desde 2017 ela está representada no parlamento federal (Bundestag) com 91 assentos (12,6%). Desse modo, se beneficia do mesmo Estado democrático de direito que repetidamente ataca.

Quando chegou ao Bundestag, seu então porta-voz e atual presidente honorário Alexander Gauland definiu a estratégia de seu trabalho de oposição: "Nós vamos caçá-los. Vamos caçar a Sra. Merkel e quem quer que seja, e vamos tomar de volta o nosso país e o nosso povo."

Essa "caça" terá chegado ao fim, depois de quatro anos no parlamento? Nas eleições de 26 de setembro se verá quem caça quem. Só uma coisa é certa: a AfD também estará representada no próximo Bundestag. Pois o partido faz parte da Alemanha, da mesma forma que os problemas que ele instrumentaliza politicamente.

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