A Alemanha Oriental sob o signo da nostalgia
25 de agosto de 2003O filme Good bye, Lenin, sucesso de bilheteria na Alemanha no primeiro semestre que agora está conquistando os espectadores no exterior, deu início a uma onda que vem crescendo como bola de neve. É a chamada Ostalgie — um neologismo que os alemães criaram juntando Ost (Leste) com o final da palavra Nostalgie (nostalgia).
A saudade da República Democrática Alemã (RDA) — a Alemanha Oriental —, praticamente varrida para debaixo do tapete depois da queda do Muro de Berlim, é o fenômeno do momento no país. Só na televisão, existem quatro shows dedicados às lembranças dos "bons velhos tempos" no Estado alemão de regime comunista.
Diferentes reações
Há quem não esteja achando graça nenhuma na nova moda. Tal como Günter Nooke, político democrata-cristão do Leste que já lançou em público a provocante pergunta: que tal seria se a televisão promovesse um show sobre o III Reich?
Mas há também quem não acha nada demais nessa renascença, em vestes idealizadas, do dia-a-dia alemão-oriental. "A gente não quer ficar o tempo todo sendo lembrado das coisas ruins. Na hora de morrer, a gente quer ter tido uma vida bonita", argumenta Leander Haussmann. Ele é o diretor de um outro filme sobre a RDA que fez grande sucesso, intitulado Sonnenallee, que retrata a vida pequeno-burguesa do "outro lado" do Muro. Na mesma entrevista, Haussmann não deixa a menor dúvida de que recordar não significa querer o passado de volta: "O sistema era um horror. Eu o detestava".
A jovem escritora Jana Hensel, de 27 anos, autora de um livro de recordações sobre a RDA, Zonenkinder (Crianças da zona, palavra que aqui se refere à "zona de ocupação soviética"), também é de opinião de que se deveria "permitir as lembranças em diferentes planos — com o tempo, o tema acaba se esgotando por si próprio".
Resgate do passado em forma de pop
O diário berlinense Der Tagesspiegel argumenta que, no oeste do país, na República Federal da Alemanha, a vida após a Segunda Guerra afinal continuou sem grandes cesuras. Não apenas na política, como também no showbizz, muitos dos personagens da vida pública durante o III Reich puderam continuar atuando sem interrupção.
Já no Leste, toda a população foi penalizada coletivamente após a reunificação do país, independente da culpa ou inocência individual. O cotidiano foi substituído de uma hora para outra: mercadorias, moeda, imprensa, valores — tudo vinha do Ocidente. As lembranças não tiveram tempo para empalidecer, precisaram ser apagadas. Não é, portanto, de se admirar que elas agora voltem à tona.
E isto acontece segundo os moldes a que toda a vida moderna está submetida — em forma de pop. Se até a política mundial virou um grande show, se o Big Brother e programas afins fazem de cada pessoa um superstar, também as biografias e as lembranças coletivas são resgatadas agora numa grande encenação. O jornal berlinense se admira, mesmo, é do "estômago forte" que o nosso sistema tem. "O capitalismo digere tudo. No momento, ele está digerindo a RDA."