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História

5 de março de 1943

Michael Marek/gh

No dia 5 de março de 1943, a UFA, então maior companhia cinematográfica da Alemanha, lançou o mais ambicioso filme da era nazista, contendo críticas veladas ao regime.

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Ator Hans Albers como o barão mentiroso, 1943Foto: picture-alliance/imagestate/HIP

Enquanto a Alemanha afundava nos escombros da Segunda Guerra Mundial, estreou, no dia 5 de março de 1943, o mais ambicioso filme da era nazista: As aventuras do Barão de Münchhausen. Trata-se de uma comédia, filmada em estilo hollywoodiano, que conta a fantástica aventura do mentiroso barão de Bondenwerder (cidade de 6 mil habitantes, próxima a Hannover, na Baixa Saxônia). Sua estreia em Berlim marcou o 25° aniversário da Universum Film Aktiengesellschaft (UFA), a maior companhia cinematográfica da Alemanha até 1945.

Como todas as produções culturais da época, o filme teve de passar pelo crivo da censura oficial. O diretor húngaro Josef von Baky foi escolhido a dedo pelo ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, que, no entanto, teve de aceitar contra a sua vontade o ator Hans Albers no papel de barão. O roteiro baseou-se num livro do controvertido pacifista e autor de literatura infantil Erich Kästner, que, mais tarde, se justificaria perante os amigos com a seguinte declaração: "A encomenda do filme veio do maior mentiroso do mundo. Por que, então, não fazer um filme sobre o mentiroso que mais se parece com ele, o barão de Münchhausen?"

Kästner camuflou críticas ao regime nazista em várias cenas do filme. Na Alemanha da onipresente polícia estatal (SS), o personagem Giacomo Casanova, galanteador e observador perspicaz de seu tempo, adverte o barão de Münchhausen e sua princesa Isabella d'Este: "A vida é curta, barão, e a morte nos enxota da interessante peça, antes que ela termine. O carnaval de Veneza é um bom esconderijo, princesa. Mas, cuidado! A inquisição estatal tem dezenas de milhares de olhos e braços e o poder de fazer justiça ou injustiça a seu bel-prazer."

Grande êxito de bilheteria

A realidade do regime nazista era bem mais horrenda do que Casanova podia supor. A crítica camuflada de Kästner passou quase despercebida em monólogos, que refletiam "voos filosóficos" de cidadãos comuns, resignados diante do regime de Hitler. As aventuras do Barão de Münchhausen foi um sucesso de bilheteria, faturando 25 milhões de Reichsmark (moeda alemã da época) já na estreia, quando Goebbels ofereceu um pomposo banquete de comemoração do 25° aniversário da UFA.

A companhia fora fundada como instrumento de propaganda, no dia 18 de dezembro de 1917, em meio à Primeira Guerra Mundial, por um consórcio liderado pelo Deutsche Bank com participação secreta do Deutsches Reich (Império Alemão). O principal mentor da fusão de várias produtoras independentes numa grande companhia cinematográfica foi o general prussiano Erich Ludendorff (1865-1937), um anti-semita que acabou se distanciando do ideário de Hitler.

Protegida pelo estado, a UFA produziu, no anos 20, clássicos como Metrópolis (de Fritz Lang). Por volta de 1926, em meio a dificuldades financeiras, a empresa teve de se fundir com as filiais alemãs da Paramount e da MGM. Quando as dívidas aumentaram, a companhia foi comprada por Alfred Hugenberg, dono de um império da comunicação, que combateu a República de Weimar (1919-1933).

Em 1929, iniciou a produção de filmes sonoros, com Melodia do Coração, de Hans Schwarz. Após a ascensão dos nazistas ao poder, em 1933, foi proibida a participação de diretores e artistas judeus em filmes da UFA. Foi a época de ouro da atriz e diretora Berta Helene Amalie Riefenstahl, com filmes como Der Triumph des Willens/O Triunfo da Vontade (1935) e Olympia (1938), os documentários mais conhecidos do cinema de propaganda nazista. Em 1942, a UFA foi engolida pela estatal UFI (Universum-Film GmbH).

Recriação da UFA em 1956

Após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha e sua indústria cinematográfica foram divididas. Na Alemanha Ocidental, a UFI deu origem à Bavaria Film, Universum-Film e Ufa-Theater. No lado oriental do país, restou apenas uma companhia 70% estatal, a Defa. O total da produção alemã, tanto oriental como ocidental, na primeira década do pós-Guerra, foi de pouco significado.

O gênero mais popular foi o Heimatfilme, uma série de dramas e comédias ambientadas no meio rural. Na década de 1960, um grupo de jovens que pretendia fazer cinema e mostrar sua própria visão da realidade no estilo da nouvelle vague francesa criou o Kuratorium Junger Deutscher Film, com apoio oficial, que ajudou a produzir os filmes de Alexander Kluge, Werner Herzog, Rainer Werner Fassbender e Volker Schlöndorff, entre outros.

Em 1956, a UFA foi refundada pela editora Bertelsmann, na Alemanha Ocidental, e passou a dedicar-se principalmente à produção de filmes e séries para a televisão. Em 1984, a Bertelsmann agrupou suas atividades de cinema e televisão na UFA Film- und Fernseh GmbH, em Hamburgo, que, desde 1997, pertence à holding CLT-UFA, sediada em Luxemburgo.