Zimbabueanos temem regresso da hiperinflação
23 de novembro de 2016O plano do Executivo para introduzir as "bond notes" gerou uma nova onda de contestação no Zimbabué, que tem sido palco de protestos nos últimos meses.
Muitos cidadãos estão frustrados devido ao colapso económico do país. O Zimbabué tem um défice orçamental de centenas de milhões de euros e não consegue pagar atempadamente os salários dos funcionários públicos. Nos últimos anos, milhares de empresas foram obrigadas a fechar as portas.
A emissão das "bond notes" foi a resposta do regime do Presidente Robert Mugabe à crise. Os títulos de dinheiro substituem a moeda local, com a vantagem de não desvalorizarem no mercado interno. Segundo o Executivo, uma "bond note" será o equivalente a um dólar norte-americano. Mas as "bond notes" não podem ser trocadas nem valem absolutamente nada no estrangeiro. A população teme que a operação económica de nada sirva para travar a crise financeira.
"Nós não queremos usar estes títulos, porque são tão maus quanto os que foram introduzidos antes, quando tivemos escassez de dinheiro. Perdem todo o valor quando compramos no estrangeiro", afirmou uma zimbabueana.
Medo da hiperinflação
Os populares receiam uma repetição da impressão excessiva que desembocou numa hiperinflação, entre 2007 e 2009. As notas de 100 biliões de dólares zimbabueanos, por exemplo, ficaram famosas na altura. Face à desvalorização da moeda local, desde 2009 o país passou a usar o dólar norte-americano. Mas agora está sem reservas.
O Governo anunciou que as "bond notes" entrarão em circulação a partir de 30 de novembro, embora a data tenha sido sucessivamente protelada pelo executivo.
Robert Mugabe, de 92 anos, está na Presidência do Zimbabué há quase três décadas. A grave situação económica do país, causada em grande medida pela corrupção, ameaça a continuidade do líder. Mas Mugabe quer manter-se no poder, pretendendo concorrer às eleições de 2018, ainda que nos últimos meses tenha multiplicado esforços para evitar as tensões dentro do seu partido, o ZANU-PF.