Viagem por uma África em ascensão
24 de fevereiro de 2011Guerra, fome, ditaduras – para muitas pessoas na Alemanha, algo em que se pensa imediatamente quando se fala em África. Uma imagem negativa sobre o continente que terá entretanto sofrido algumas alterações – sobretudo em 2010, quando, a pretexto do Mundial de Futebol da África do Sul, muitos jornalistas alemães estiveram em África e aproveitaram para captar outro tipo de imagens: histórias sobre um continente jovem, dinâmico e com enormes potencialidades económicas.
No ano passado, Marietta Slomka, uma das mais conceituadas jornalistas da Alemanha, foi também a África e realizou documentários sobre a Etiópia, Ruanda, Quénia, Serra Leoa ou Angola. Agora, lançou o livro "Mein afrikanisches Tagebuch – Reise durch einen Kontinent im Aufbruch", ou “O meu diário africano – Viagem por um continente em ascensão”. Um livro que, de acordo com a jornalista, pretende contrariar preconceitos e lugares comuns sobre África.
"Infelizmente, a maior parte dos alemães tem uma visão de África distorcida. Por um lado, idealizam o continente africano, conotando-o sempre com os obrigatórios elefantes e outros bichos selvagens e um romântico pôr do sol como pano de fundo. Por outro, olha-se para África como o continente da fome, da guerra, da Sida, da pobreza e da falta de esperança e perspetivas”. Mas diz Slomka: ”Depois de viajar por África fiquei a saber que o continente tem outras facetas. Com o meu livro, quis, de facto, contrariar os clichés que existem na Alemanha sobre África".
Viagens em trabalho e durante as férias
O livro fala do Ruanda, da Etiópia, do Quénia e, particularmente, de dois países lusófonos: Angola e Moçambique.
"Angola é um país riquíssimo, mas cuja riqueza não beneficia a população”, refere Marietta Slomka. “Uma das razões é a má distribuição das receitas do petróleo. O dinheiro não é investido na educação, na saúde ou em infraestruturas. Os líderes não contribuem para o futuro da nação. Os recursos beneficiam apenas uma pequena elite”.
Em Moçambique, a jornalista esteve durante as férias, que aproveitou para se dedicar ao seu desporto favorito, o mergulho. No entanto, apesar das belezas naturais no país, Slomka aponta também o dedo:
“As ilhas e os corais de Moçambique são autênticos paraísos naturais, mas são paraísos ameaçados. O desafio é tratar e explorar as belezas naturais de forma sustentável, para que as populações locais possam beneficiar do turismo. Mas o que vi é que o turismo beneficia poucos moçambicanos e muitos estrangeiros."
No livro de Marietta Slomka, as críticas ao continente africano e aos seus governantes são sempre acompanhadas de verdadeiras declarações de amor aos denominados cidadãos comuns das variadas sociedades africanas.
A jornalista vai agora iniciar uma digressão por várias cidades alemãs e organizar leituras para que o público alemão obtenha mais uma perspetiva – um olhar diferente sobre um “continente em ascensão”.
Autor: António Cascais
Revisão: Guilherme Correia da Silva/António Rocha