Ambicioso projeto ferroviário em África está atrasado?
15 de outubro de 2022A União Africana planeia construir uma enorme e moderna rede ferroviária para ligar as principais capitais e regiões de todo o continente até 2033. O comboio é dos transportes mais amigo do ambiente, mas este ambicioso projeto precisa de financiamento, trabalho e vontade política.
Younes Tabitha da Agência de Desenvolvimento da União Africana (NEPAD), diz que estão projetadas 74 conexões no total.
"Na primeira parte, no ‘Plano Diretor 2033', haverá 19 conexões. Portanto, serão implementados neste período 25% dos quilómetros da rota do plano geral. E de 2034 a 2063, todas as outras conexões restantes serão concluídas”, explica.
Em muitas partes de África, as redes ferroviárias remontam aos tempos coloniais. Originalmente, não foram construídas para transportar passageiros, mas para conduzir as matérias-primas, como madeira e ouro, para os portos marítimos e enviá-las depois para a Europa.
Hoje, as ferrovias servem outros propósitos, como facilitar o comércio e a mobilidade entre os países africanos.
"Al Boraq"
O "Al Boraq", o primeiro comboio expresso de África, percorre a paisagem costeira de Marrocos a uma velocidade de 320 km por hora. Liga Tânger a Casablanca em apenas duas horas e é cobiçado por muitos líderes africanos.
A sua inauguração em 2018 foi um sonho tornado realidade para aquele país do norte de África. Um sonho partilhado pela União Africana, que há nove anos lançou o megaprojeto da "Rede Ferroviária Integrada de Alta Velocidade Africana".
Para já a União Africana escolheu três projetos-piloto prioritários: Do porto tanzaniano de Dar es Salaam à capital do Ruanda, Kigali; de Kampala, no Uganda, a Bujumbura, no Burundi; e do centro económico da África do Sul, Joanesburgo, a Walvis Bay, na Namíbia, via Gaborone, capital do Botswana.
Estudos de viabilidade
De acordo com o plano de ação da União Africana, onze outros projetos de ligação ferroviária serão submetidos a um estudo de viabilidade o mais brevemente possível. Mas até agora, todos os projetos permanecem no papel.
O diretor da ferrovia nacional da Zâmbia, Sydney Mwamba, diz que o país não tem dinheiro e que precisa de financiamento para, de facto, desenvolver as linhas ferroviárias dentro do país. As carruagens estão desatualizadas e a infraestrutura é precária.
"Um dos aspetos mais importantes que o governo pode usar para desenvolver este setor é a aplicação de uma nova lei sobre parcerias público-privadas. Esta é vista como uma das opções mais promissoras para o desenvolvimento do setor ferroviário, especialmente com vista a uma Área de Livre Comércio Africana, que deverá criar mais ligações comerciais dentro dos países africanos."
A realidade é que a construção de novas linhas ferroviárias em África precisa de superar muitos obstáculos, mas, uma vez concluídas, as ferrovias podem impulsionar o comércio e a mobilidade entre os estados africanos.