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Um dia na vida dos rebeldes da Líbia

19 de maio de 2011

Nas montanhas de Nefusa, no leste da Líbia, continua a verificar-se uma resistência cerrada da oposição às tropas do coronel Kadhafi. A Deutsche Welle esteve em Nalut com os rebeldes.

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Os rebeldes líbios não desistem do propósito de derrubar o regime de TripoliFoto: AP

A cidade de Nalut foi uma das primeiras a libertar-se do jugo do regime de Tripoli, em meados de fevereiro passado. Desde então, os soldados de Kadhafi bombardearam repetidas vezes a cidade num esforço para a reconquistar. A maioria dos 25 000 habitantes de Nalut procurou refúgio na vizinha Tunísia, que dista uma hora de carro. Na cidade estão agora algumas centenas de rebeldes que preparam uma ofensiva. O seu plano, afirmam, é marchar sobre a capital, Tripoli, 260 quilómetros a nordeste de Nalut.

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As tropas de Kadhafi continuam a bombardear a população líbiaFoto: picture-alliance/dpa

Rebeldes passam à ofensiva

Às 10 horas da manhã parte de Nalut uma carrinha de caixa aberta, que transporta meia dúzia de rebeldes numa estrada cheia de curvas. Finalmente param num abrigo para pastores no sopé da montanha. Ali e os seus amigos descarregam armas, bananas e um par de binóculos. "Estamos aqui para vigiar os movimentos das tropas de Kadhafi", explica Ali.

Daqui veem-se os quatro tanques e seis lançadores de mísseis estacionados em redor de Gazaya, lá em baixo no vale. Há seis semanas que a vila está cercada pelas forças pró-Kadhafi. Ali diz que os rebeldes aprenderam a ler os movimentos do inimigo: "Todos os carros estão estacionados ao pé das casas, está a ver? Quando se começam a mexer, alertamos todo o mundo"

A rádio Free Nalut quer combater as mentiras de Kadhafi

Os rebeldes também aperfeiçoaram uma linguagem de códigos que lhes permite comunicar com segurança com os "walky-talkies". Antes da revolução, Mouhadin, de 21 anos, era futebolista profissional. Agora está ocupado com o controle rotineiro matinal, para o qual usa uma mistura de árabe, berbere e nomes de código.

Do walky-talky soam gargalhadas, Mouhadin brinca com os outros combatentes. Mas todos se preparam para coisas sérias: um ataque para libertar Gazaya.

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A aliança ocidental, NATO, e algumas nações árabes, intervieram para impedir Kadhafi de bombardear os rebeldsFoto: picture-alliance/dpa

Chegam-lhes notícias via a Rádio Free Nalut de que as tropas de Kadhafi recomeçaram a bombardear Nalut. Mouhadin diz que a vida de alguams centenas de habitantes que permaneceram na vila estão em perigo de vida. Esta rádio costumava ser um instrumento de propaganda do regime de Tripoli, até que os rebeldes a ocuparam e a transformaram na sua própria voz. O novo locutor é Ali Shalbak, de 21 anos. Para ele, a rádio tem que cumprir duas funções: informar os rebeldes sobre os desenvolvimentos mais recentes e transportar a menagem da revolução para as cidades que ainda não foram libertadas: Queremos que as cidades por libertar tenham informação sobre o que se passa na região” diz, “as estações de televisão e rádio de Kadhafi só mentem. Por isso é importante que os nossos programas cheguem a todo o lado para que as pessoas possam tirar as suas próprias conclusões”

Mesmo os feridos querem voltar para a frente

À tarde, em Nalut, dá entrada no hospital a primeira vítima do dia, com uma bala no estômago. Trata-se de Nagi Mohammed, de 31 anos. Médicos e enfermeiros estão à sua volta na tentativa de lhe salvar a vida. Nagi é um deles, trabalhou como técnico de laboratório durante dez anos. Hoje, ele estava com os rebeldes que marcharam sobre Gazaya. Os médicos operam durante três horas. Em seguida transferem Nagi para os cuidados intensivos, onde partilha um quarto com dois soldados de Kadhafi. O médico diz que Nagi será tirado do quarto assim que acordar:" Imagine a família e os seus amigos chegarem aqui e verem os soldados no mesmo quarto"

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Nagi Mohamed no hospital de Nalut. O rebelde quer regressar à frente de combateFoto: Gaia Anderson

E quando Nagi acorda, no dia seguinte, com a família e os amigos em redor, a primeira coisa que diz é que quer voltar para a frente de combate.

Autor: Marine Olivesi/Cristina Krippahl

Revisão: António Rocha