UE declara apoio à Guiné-Bissau e condena conflitos militares
27 de dezembro de 2011Aos poucos, a vida em Bissau parece voltar à normalidade, depois de uma noite calma (26.12), apenas marcada por disparos esporádicos de armas automáticas no bairro de Luanda, na capital, onde se situa o quartel do exército. As lojas e instituições públicas voltam a entrar em funcionamento e os transportes estão em circulação em todo país.
Neste cenário de aparente acalmia, regista-se como novidade a presença de soldados nas imediações da residência do primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, situada em frente à embaixada de Angola e ao lado dos escritórios do Banco Mundial.
Na última madrugada (na noite de 25.12 para 26.12) no bairro de Luanda, nos subúrbios de Bissau, um agente da Polícia de Proteção Pública (PPP) ficou ferido com gravidade em consequência da troca de tiros. Segundo o Ministro do Interior, o agente terá sido atingido a tiro quando se deslocou para a residência de um deputado, onde alegadamente estaria escondido um grupo de militares.
Acontecimentos destabilizadores são um travão para a Guiné-Bissau
Agora que o clima de instabilidade parece estar mais afastado, as conversas nas ruas e as emissões das rádios de Bissau são quase unânimes em questionar o porquê de mais esta sublevação militar e seus implicados.
Mamadu Djau, diretor geral do instituto nacional de estudos e pesquisas, refere que "toda a gente está chocada". E é da opinião que a Guiné-Bissau precisa de estabilidade: "Penso que não é o momento. A Guiné-Bissau precisa de tudo, neste momento, menos de situações destas. As pessoas pensavam que já estávamos, mais ou menos, a caminhar para uma situação de estabilidade duradoura. Estamos semanalmente a assistir à vinda de empresários e de outras pessoas interessadas em fazer investimentos na Guiné-Bissau". E portanto, os acontecimentos de segunda-feira (26.12) podem ser "uma travagem para o país", esclarece o historiador Mamadu Djau.
É preciso pôr fim ao clima de impunidade
O historiador e professor universitário guineense aponta como saída para as sucessivas crises a aplicação das leis.
Segundo Mamadu Djau "o problema é tentarmos aplicar a lei. É tentarmos pôr fim à impunidade que reina neste país. E tentarmos colocar pessoas certas em lugares certos. Portanto, é só isto que nos poderá ajudar a curto, médio e longo prazo" sublinhou para em seguida acrescentar:
"Os mitos que se criam à volta de pessoas, à volta de personalidades, são mitos que nunca deram as suas provas. Por isso mesmo, eu penso que não é o caminho", concluiu Djau.
União Europeia reafirma apoio à Guiné-Bissau
Na manhã desta terça-feira, o Governo, as Forças Armadas e a comunidade internacional reuniram-se em Bissau, para analisarem os conflitos militares de segunda-feira. Desses conflitos resultou a detenção de cinco pessoas, segundo fonte militar, entre as quais o Chefe do Estado-Maior da Armada, Bubo Na Tchuto.
O delegado da União Europeia no país, Joaquim Golçalez Ducay, deixou claro a posição dos 27 Estados-membros: "este tipo de ações não são aceitáveis. A União Europeia não aceitará nunca. A Guiné-Bissau tem o nosso apoio total para continuar com o programa de reforma e o processo de estabilização".
O objetivo da reunião foi pedir aos parceiros europeus para que não coloquem entraves ao desbloqueamento dos apoios prometidos ou em curso no país na sequência dos conflitos de segunda-feira (26.12).
Joaquim Golçalez Ducay, também apelou às Forças Armadas guineenses para "continuarem a ser o que são, umas Forças Armadas republicanas dispostas a obedecer ao poder civil e a defender a legitimidade democrática".
Autoridades guineenses reunidas
Nesta terça-feira (27.12) houve também uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros, convocada pelo primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, para analisar o que se passou na véspera (26.12) e avançar com medidas concretas para a criação de uma comissão de inquérito.
Houve ainda uma reunião do Conselho Superior Militar, no Ministério da Defesa, sob a presidência do ministro Baciro Djá.
Autor: Braima Darame (Bissau) / Lusa
Edição: Glória Sousa / António Rocha