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ConflitosSudão

Tiroteios e explosões abalam Sudão apesar de cessar-fogo

AFP | mjp
1 de maio de 2023

A capital sudanesa, Cartum, voltou a ser palco de confrontos, apesar da trégua em vigor. ONU diz que crise humanitária colocou o país no limiar da "rutura".

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Foto: AFP/Getty Images

Tiroteios e explosões voltaram a abalar a capital do Sudão esta segunda-feira (01.05), apesar da trégua formalmente acordada entre as partes beligerantes, enquanto as Nações Unidas alertavam para o facto de a crise humanitária ter colocado o país perto do seu "ponto de rutura".

Milhões de sudaneses dentro e fora da capital abrigaram-se nas suas casas, com pouca comida e água e frequentes cortes de energia, enquanto os caças que atravessam os céus em bombardeamentos têm sido alvo de fogo antiaéreo pesado.

"Os aviões de guerra estão a sobrevoar o sul de Cartum e os canhões antiaéreos estão a disparar contra eles", disse um residente, citado pela agência de notícias France Presse.

Mais de 500 pessoas foram mortas desde o início dos combates, a 15 de abril, entre o chefe do exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan, e Mohamed Hamdan Daglo, que comanda as Forças paramilitares de Apoio Rápido (FAR).

O caos e o derramamento de sangue, agora na sua terceira semana, provocaram um êxodo em massa de dezenas de milhares de sudaneses para os países vizinhos, incluindo o Egito, o Chade e a República Centro-Africana.

Sudan | Kämpfe in Khartum
Rua deserta em Cartum, esta segunda-feiraFoto: AFP/Getty Images

Crise "sem precedentes"

Burhan e Daglo acordaram vários cessar-fogos que foram desrespeitados e prolongaram o último por 72 horas no domingo, com cada um dos lados a culpar repetidamente o outro pelas frequentes violações.

Enquanto os países estrangeiros evacuaram milhares dos seus cidadãos por via aérea, rodoviária e marítima, cerca de 50.000 sudaneses fugiram por terra para os países vizinhos, segundo a ONU.

Os tumultos no Sudão já levaram à morte de trabalhadores humanitários, bombardeamento de hospitais e pilhagem de instalações humanitárias e forçaram várias organizações internacionais a suspender a maior parte das suas operações.

"A escala e a rapidez do que está a acontecer não têm precedentes no Sudão", afirmou Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres. "Estamos extremamente preocupados com o impacto imediato e a longo prazo em todas as pessoas no Sudão e em toda a região".

Martin Griffiths, responsável máximo pela ajuda humanitária da ONU, está a caminho da região para ajudar a socorrer os milhões de pessoas "cujas vidas se viraram de pernas para o ar de um dia para o outro".

"A situação humanitária está a atingir o ponto de rutura", afirmou Dujarric.

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Destroços de um mercado em El Geneina, Darfur OcidentalFoto: -/AFP

Vítimas em todo o país

De acordo com o Ministério da Saúde do Sudão, pelo menos 528 pessoas foram mortas e quase 4.600 ficaram feridas durante a violência, mas receia-se que o número real de mortos seja muito superior.

Os combates alastraram a todo o Sudão, incluindo à região de Darfur, há muito afetada por tumultos. As Nações Unidas afirmaram que pelo menos 96 pessoas foram mortas em El Geneina, no Darfur Ocidental, onde foram vistos mantimentos espalhados pelo chão de hospitais gravemente danificados.

A ONU alerta que os distúrbios poderão agravar a situação alimentar de milhões de pessoas, num país onde 16 milhões de cidadãos já precisavam de ajuda para evitar a fome.

Jordanien Amman | ICRC-Mitglieder bereiten humanitäre Hilfsgüter für den Sudan vor
Cruz Vermelha transportou oito toneladas de ajuda humanitária para Porto SudãoFoto: ICRC/AFP

"Catástrofe" na saúde

Apenas 16% das instalações de saúde de Cartum estão a funcionar, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Os combates estão a empurrar o setor já em dificuldades para uma "catástrofe", alertou o director regional da OMS para o Mediterrâneo Oriental, Ahmed al-Mandhari.

O diretor alertou para a ameaça crescente da cólera, da malária e de outras doenças, à medida que se aproxima a estação das chuvas e que as reservas de água potável se tornam escassas.

No domingo, um primeiro avião da Cruz Vermelha transportou oito toneladas de material médico da Jordânia para Porto Sudão, que tem servido de centro de evacuação. O Programa Alimentar Mundial da ONU retomou as suas actividades no país após mais de duas semanas de suspensão na sequência da morte de três dos seus trabalhadores humanitários.

As potências regionais encetaram negociações para ajudar a pôr termo à violência. Um enviado de Burhan reuniu-se no domingo em Riade com o Príncipe Faisal bin Farhan, Ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, que apelou ao restabelecimento da calma no Sudão.

O Egito, numa reunião de emergência da Liga Árabe no Cairo, propôs um projecto de resolução na segunda-feira que apelava a uma "cessação imediata e abrangente" dos combates.

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