Moçambique: "Investimento externo num compasso de espera"
7 de janeiro de 2025Os violentos protestos pós-eleitorais que Moçambique vive há mais de dois meses já levaram algumas multinacionais a paralisarem as suas atividades, algumas delas alegando até "força maior". E as previsões de investimento externo não são favoráveis. A consultora Oxford Economics alerta para a possibilidade de os doadores e investidores internacionais retirarem o apoio financeiro a Moçambique se a instabilidade continuar depois do primeiro trimestre, devido à "opressão" do Governo.
O economista João Mosca sublinha que "num país em alto risco de instabilidade e de desgovernação, naturalmente que os investidores, sobretudo os investidores de grande volume sobre áreas muito importantes para a economia de Moçambique e também para a economia de seu s países e dessas multinacionais fiquem resguardados esperando por novas evoluções."
Mosca assegurou que, neste momento, de facto, é muito difícil definir o que se passará nos próximos tempos. "Daí é totalmente lógico que o investimento externo fique num compasso de espera."
O economista recorda que Moçambique é excessivamente dependente de financiamento externo, da cooperação internacional, dos donativos e empréstimos. Essa dependência perfaz cerca de 60% do PIB, o que Mosca qualifica como carga muito pesada para o país.
Sobre as consequências de uma redução do investimento externo a médio prazo - Mosca diz que não se espera que esse investimento mantenha-se em compasso de espera, e considerando os efeitos se fizeram sentir nos setores industrial, turístico e dos transportes, "não se espera que a economia se recupere nos próximos tempos."
Condicionalismos como unidade de pressão?
E a australiana Syrah Resources, que suspendeu recentemente as operações no contexto da violência eleitoral, anunciou que, enquanto as manifestações condicionarem a sua atividade na Balama Graphite, em Cabo Delgado, não receberá novas tranches de um empréstimo norte-americano. Seria o condicionalismo um mecanismo de pressão das autoridades norte-americanas à contraparte moçambicana por uma solução mais rápida?
Mosca acredita que sim, argumentando que o capital externo e os países que mais cooperam e que mais investem em Moçambique, não lhes é nada interessante esta situação, porque "têm aqui grandes capitais investidos e não só em zonas de corredores, no interior e nos países do interland, com importações e exportações bastante volumosas."
O economista prossegue que não interessa nada que Moçambique entre de forma descontrolada para uma situação de crise não controlada de médio e longo prazo.
"Portanto, é uma forma de pressionar. Mas também é preciso ter em consideração que o novo Governo vai receber uma situação em que o Estado está completamente descontrolado e não domina a situação social e económica. E vamos ver como serão a pressão externa e as conflitualidades no país."
Garantir segurança usando meios do Estado
Já a Montepuez Rubi Mining fez movimento contrário, regressando às suas operações depois de alguns dias de interregno. Haverá por detrás do retorno a intenção de se transmitir uma imagem de estabilidade para o investimento?
O economista lembra que "a empresa Rubis de Montepuez está 'protetorada' por um dos generais mais antigos da FRELIMO, que é o Pachinuapa. É gerida pelo filho de Samora, o Samora Machel Jr. Portanto, há aqui grandes interesses - não só de natureza económica, mas também de transmitir uma imagem diferenciada."
Também a mineradora "opera numa situação em que não há grave crise e todo o escoamento que tem opera-se num eixo que não é de grande crise", acrescenta.
"Por outro lado, devemos salientar que as minas de Montepuez estão fortemente protegidas pelo Exército moçambicano", concluiu Mosca.