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Temas africanos na imprensa alemã

4 de março de 2011

A crise na Líbia foi tema de destaque na imprensa alemã esta semana. Alguns jornais fazem referência ao medo que os europeus tem de um aumento de imigrantes. A venda de helicópteros à Costa do Marfim não ficou de fora.

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As violentas manifestações da Líbia levaram a imprensa alemã a questionar a actuação da União Europeia na criseFoto: AP

Nesta quinta-feira 3/2, o diário conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung apontou que a violenta repressão das manifestações anti-governamentais na Líbia pelo presidente Mouammar Kadhafi levou a declarações auto-críticas no interior da União Europeia. O jornal cita o comissário europeu Stefan Füle dizendo que muitos dos europeus acreditaram que regimes autoritários são uma garantia de estabilidade na região do Norte da África. Mas que isso não se tratava da chamada Realpolitik, a política pragmática praticada por muitos países europeus. Foi uma visão míope das coisas, disse Füle diante do Parlamento.

A declaração teria peso especialmente porque Füle é responsável pela chamada "política de vizinhança", usada pela União Europeia também nas relações com os países do Mediterrâneo. Aparentemente, também a Comissão Europeia acha que esta parte da política externa européia precisa de ser reformada – algo que alguns países do chamado bloco dos 27 já reivindicaram, como por exemplo a Alemanha.

Libyen Demonstration gegen Muammar Gaddafi in Bengasi Patronengürtel
Em Benghazi, a cidade tomada pelos opositores, os manifestantes anti-Kadhafi reafirmaram nesta sexta-feira (4/3) o seu descontentamentoFoto: AP

Em nome dos negócios

A política da vizinhança foi criada em 2004, como complemento do alargamento da União Europeia. Com isso, o bloco queria estabelecer relações estáveis com países próximos, como por exemplo a Líbia, sem ter imediatamente de considerá-los potenciais membros da União Europeia. O jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung explica que, de forma bastante simplificada, isso quer dizer que a União Europeia propõe como modelo o próprio bloco dos 27. Principalmente através de relações económicas com a Europa, a idéia seria criar estímulos para que países próximos fora da União Europeia assumam normas e valores europeus. O objetivo é aumentar assim as relações comerciais da Europa.

Obviamente, escreve o Frankfurter Allgemeine Zeitung, esse objetivo é conseguido especialmente por meio de auxílios financeiros que a União Europeia daria aos países do Mediterrâneo, por exemplo. Mas a discussão em Bruxelas, agora, giraria em torno da seguinte questão: será que a parte desses auxílios usada para a democracia não foi muito diminuta?

"O bom déspota"

Já o jornal Der Freitag publicou também nesta quinta-feira, 3 de Março, um artigo intitulado “Momento da Verdade”. Como subtítulo, ficou a pergunta provocadora: “O Norte de África testemunha um ponto de viragem, e a Europa treme: será que eles querem todos vir para cá, para a União Européia? Agora é a hora de acabar com a era da hipocrisia”, escreve o jornal.

Para a questão da migração, o Der Freitag cita que a resposta da Europa foi rápida, uma vez que já colocou em ação os especialistas da agência que policia as fronteiras da União Europeia, a Frontex. Mas, piores, diz o jornal, são os cemitérios que existem em torno do Mar Mediterrâneo – e foi o “louco déspota” de Trípoli, Mouammar Kadhafi, que acabou se tornando o aliado do bloco dos 27. A UE “pagou somas avultadas de dinheiro para que potenciais fugitivos em pirogas desaparecessem em campos de tortura líbios”.

Chegou então a hora, escreve o Der Freitag, de a União Europeia apoiar a “corajosa luta” na vizinhança do Velho Continente, para construir um mundo mais justo e mais pacífico. O jornalista Elias Bierdel diz ainda que, agora, está na hora de a União Europeia demonstrar de que lado está realmente.

O suíço Neue Zürcher Zeitung repercutiu o alegado fornecimento de helicópteros de combate originários da Bielorússia a forças de segurança do presidente cessante da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo. O Conselho de Segurança das Nações Unidas começou na passada segunda-feira (28/2) a debater sobre a possível quebra do embargo de armas contra a Costa do Marfim – um país que estaria à beira de uma guerra civil, segundo avaliação do jornal.

Flüchtlinge aus dem Sudan in Tschad
Na imagem, mulheres sudanesas no Chade. Em Cartum, activistas mulheres tem sido alvo de violações sexuaisFoto: AP

Acusações de violências no Sudão

Já o Süddeutsche Zeitung destacou na terça-feira (1/3) a repressão, por forças de segurança sudanesas, de ativistas críticos ao regime de Omar Hassan Al-Bashir. O jornal cita o exemplo de um blogger que foi preso no início de fevereiro e libertado doze dias depois, e foi questionado com práticas violentas numa sala escura em Cartum. Grupos sudaneses falam de dezenas de ataques sexuais a jovens ativistas mulheres. O estupro seria uma arma nova contra ativistas pacíficas, diz a organização Sudan Democracy First.

Outros assuntos que surgiram na imprensa alemã durante a semana tem relação com o potencial económico do continente africano. O Financial Times Deutschland, versão alemã do diário económico britânico, publica atualmente uma série de reportagens sobre o crescimento africano. Na sétima reportagem, diz que cada vez mais empresas africanas podem concorrer no exterior e estão a expandir os seus negócios além-mar.

O jornal cita o exemplo da Aspen, a maior farmacêutica africana, originária da África do Sul, e que tem uma fábrica em Hamburgo, no norte da Alemanha, com cerca de 300 funcionários alemães comandados por africanos.


Autor: Renate Krieger
Revisão: Nádia Issufo

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