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Lusotaque apresenta peça sobre o colonialismo

Joana Rodrigues29 de abril de 2015

O grupo de teatro Lusotaque apresentou esta segunda-feira (27.04) em Bona, na Alemanha, a sua nova peça: “Popanz XXI: Quem tem medo do bicho-papão?”, sobre o sistema colonial português.

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Foto: DW/J. Rodrigues

Lusotaque é o grupo de teatro em português da Universidade de Colónia, na Alemanha. Esta segunda-feira, 27 de abril, o grupo apresentou na cidade de Bona a sua nova produção: “Popanz XXI: Quem tem medo do bico-papão?”, baseada no teatro documentário do escritor alemão Peter Weiss. A peça constitui uma crítica ao sistema colonial português e à exploração e opressão dos africanos de Angola e Moçambique.

Durante o espetáculo, o “Papão lusitano” foi tomando várias formas: foi Portugal, foi Salazar, foram todos aqueles que de alguma forma ajudaram a manter este regime, e foi principalmente o próprio sistema colonial arcaico e opressor. A encenação teve o apoio do Instituto Camões, da sociedade Brasil-Alemanha e do Horizont Theater.

O grupo costuma fazer adaptações de peças de outros autores, mas já tiverem produções próprias também. Desta vez decidiram seguir por um caminho diferente, ao abordar um tema mais sério do que o costume, explica o ator alemão Daniel Peiffer: “A peça é sobre a colonização portuguesa em Angola e Moçambique. Nós adaptámos a versão portuguesa e juntámos alguns temas atuais. As nossas outras produções sempre foram mais para rir, e por isso acho importante também fazermos uma peça deste tipo. Queremos transmitir um olhar bem crítico e tentar lembrar as pessoas que esta parte da História ainda existe.”

Deutschland Bonn Theatergruppe Lusotaque
A exploração e a opressão dos africanos nas colónias portuguesas foram fortemente criticadas.Foto: DW/J. Rodrigues

Os atores fizeram ainda uma ligação à África dos dias de hoje, criticando problemas como o ébola ou a situação no Mediterrâneo. “Adicionámos algumas cenas que representam problemas atuais. Queremos que as pessoas reflitam sobre eles também", conta a atriz Patricia Sojka.

O teatro como forma de manter a cultura lusófona

O Lusotaque existe desde 2006, e conta com atores de várias nacionalidades, mas todos com um interesse comum pela língua portuguesa. Há alemães, brasileiros e luso-descendentes, cada um com o seu sotaque próprio, o que acabou por dar o nome ao grupo, como conta Ines Herhuth, a co-diretora desta produção: “Lusotaque é uma junção de língua portuguesa e de lusofonia, com sotaque, pois todos os membros têm um sotaque diferente, como eu própria também tenho.”

Os elementos do grupo consideram que fazer teatro em português é uma forma importante de manterem as suas identidades e a sua cultura lusófona. “Para mim, qualquer meio de usar a língua é óptimo”, diz Patricia.

Deutschland Bonn Theatergruppe Lusotaque
O grupo é composto por elementos de várias nacionalidades, mas todos com algo em comum: a língua portuguesa.Foto: DW/J. Rodrigues

Marianna Souza é brasileira mas vive há 17 anos na Alemanha, e viu no Lusotaque uma forma de não perder contato com a sua língua materna. “Eu queria praticar o meu português, então juntei-me ao grupo em 2011, e como encontrei pessoas de quem gostei muito acabei por ficar até hoje”, conta.

A peça “Quem tem medo do bicho papão?” já esteve em cena duas vezes na cidade de Colónia (oeste da Alemanha) e os ingressos esgotaram em ambas as sessões. “Recebemos críticas muito boas, as pessoas gostaram e a casa esteve lotada”, afirma Daniel.

Em Bona, a reação do público também foi muito positiva. “Eu achei muito impressionante o trabalho dos atores. Não tenho a impressão de que eles sejam profissionais, mas fizeram um trabalho altamente profissional. Fiquei impressionado, estão de parabéns”, afirma Maurício Virgem, um dos espetadores.

O Lusotaque produz duas peças anuais sobre temas relacionados com os países de língua portuguesa. Já adaptaram textos de Pepetela, Sophia de Mello Breyner, Mia Couto e outros autores brasileiros, africanos e portugueses. Desde 2006 o grupo já apresentou 16 produções.

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