Suazilândia - a última monarquia absoluta em África
12 de abril de 2011Dois terços dos habitantes da Suazilândia vivem com menos de um dólar por dia. 40% são desempregados. No dia 18 de Março passado cerca de 8.000 pessoas manifestaram-se exigindo a demissão do primeiro ministro Barnabas Dlamini e de todo o seu gabinete. Para esta terça-feira, 12 de Abril, foi convocada nova grande manifestação pelos três maiores sindicatos do país. Os organizadores esperam mais de 20.000 pessoas. Um deles, Muzi Mhalanga, secretário sindical, declara: "Nós queremos que este governo se demita! Precisamos dum sistema multi partidário. Este governo não trabalha para nós".
Um país sem liberdade...
Manifestar-se neste país é arriscado porque rapidamente o protesto pode transformar-se num confronto com a polícia. Muzi Mhalanga sublinha que a sua motivação não vem das revoluções nos países árabes. Os protestos começaram já em 2008 e esta vai ser a 6ª grande manifestação: "Organizámos uma manifestação pacífica. Não queremos que se repita aqui o que aconteceu na Líbia", disse Muzi Mhalanga. "A Suazilândia é um país pequeno e nós somos homogéneos, com fortes ligações entre nós. Não queremos um banho de sangue."
...com a mais alta taxa de SIDA do mundo
Segundo a agência das Nações Unidas de combate à SIDA, UNAids, a Suazilândia tem a mais alta taxa de doentes de SIDA em todo o mundo. 26% dos habitantes estão infectados. As principais vítimas são as mulheres, que de resto são discriminadas em muitos setores.
Os seus direitos são ignorados, como recorda Mary Rayner, da Amnistia Internacional: "Na constituição há numerosas limitações aos direitos humanos. Sobretudo aos direitos das mulheres, que continuam a poder ser legalmente castigadas e discriminadas. Não há leis que protejam as mulheres de abusos e delitos sexuais. Muitas estão infetadas com o vírus HIV. Uma situação horrível".
E quanto à liberdade de imprensa e de opinião? "A situação política e de liberdade de opinião continua a ser muito crítica na Suazilândia. Até agora não se registaram progressos", diz Mary Rayner. "As pessoas não podem militar nos partidos políticos. Existem partidos, mas não podem concorrer às eleições. É portanto difícil quando alguém quer empenhar-se e trabalhar na política".
O rei Mswati III não se mostrou até agora nada impressionado com os protestos dos seus súbditos, exigindo mais liberdade politica. O monarca, a quem o povo da Suazilândia chama "o leão" vive no maior luxo. No ano passado casou-se pela 14ª vez. Nada indica que tenha sido a última.
Autor: Carlos Martins
Revisão: António Cascais