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PolíticaSri Lanka

Sri Lanka declara estado de emergência

Henry-Laur Allik | com agências
13 de julho de 2022

Após a fuga do Presidente Gotabaya Rajapaksa, o Sri Lanka decretou o estado de emergência. Um novo Governo, a ser eleito em 20 de julho, terá de resolver uma crise económica de dimensões históricas.

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Protestos diante das instalações do Governo do Sri Lanka
Protestos populares obrigaram o Presidente do Sri Lanka a fugirFoto: DINUKA LIYANAWATTE/REUTERS

O Presidente Gotabaya Rajapaksa e a sua mulher fugiram para as ilhas Maldivas na madrugada desta quarta-feira (13.07). Antes, milhares de manifestantes invadiram os edifícios onde funciona o gabinete do primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe, para exigir a sua demissão.

A polícia tentou dispersar os manifestantes com gás lacrimogéneo. A estação de televisão estatal Rupavahini foi forçada a interromper a emissão quando populares invadiram as instalações.

Localizado a sul da Índia, o Sri Lanka está mergulhado numa grave crise social devido à escassez de alimentos e medicamentos, e a uma inflação recorde.

Do exterior, Rajapaksa nomeou o primeiro-ministro Wickremesinghe Presidente interino, de acordo com o que estipula a Constituição quando o chefe de Estado se encontra incapacitado.

Wickremesinghe disse que renunciará ao cargo de primeiro-ministro caso seja formado um Governo de unidade nacional.

"Dei ordem aos comandantes militares e ao chefe da polícia para que tudo façam para restabelecer a ordem", disse o Presidente interino na televisão. "Aqueles que invadiram o meu gabinete querem impedir-me de cumprir as minhas responsabilidades como Presidente em exercício".

O Presidente do Sri Lanka Gotabaya Rajapaksa
Os cingaleses revoltaram-se contra o Presidente Gotabaya Rajapaksa Foto: Pradeep Dambarage/ZUMA Wire/dpa/picture alliance

Fuga precipitada

Um funcionário da imigração anunciou na quarta-feira que o Presidente Rajapaksa e a sua mulher deixaram o país num avião da Força Aérea do Sri Lanka, juntamente com dois guarda-costas. Uma fonte governamental confirmou que Rajapaksa aterrou em Male, capital das Maldivas.

A fuga precipitada de Rajapaksa segue-se a meses de protestos permanentes contra uma grave crise económica, que culminaram na invasão das residências oficiais do Presidente e do primeiro-ministro no sábado (09.07).

A fúria dos manifestantes forçou Rajapaksa a anuir no seu afastamento e abrir o caminho para uma "transição pacífica de poder", como explicou.

Rajapaksa é acusado de vários crimes. Acredita-se que deixou o país antecipando a demissão forçada e a perda da imunidade presidencial.

E agora?

Os partidos políticos tinham anunciado, no fim de semana, que pretendiam que as funções de chefe de Estado interino fossem asseguradas pelo presidente do Parlamento, Mahinda Yapa Abeywardana, até à realização de eleições em 20 de julho.

Sri Lanka Protestos anti-governamentais
As manifestações anti-governamentais foram desencadeadas por uma profunda crise económicaFoto: Amitha Thennakoon/AP/picture alliance

O líder do principal partido da oposição, Sajith Premadasa, que perdeu as eleições presidenciais de 2019 para Rajapaksa, anunciou a sua candidatura. Alguns membros do atual partido no poder encorajaram Wickremesinghe a concorrer.

"As pessoas com quem falei dizem estar contentes por Gotabaya Rajapaksa ter finalmente decidido renunciar ao cargo de Presidente. Mas também querem que ele seja responsabilizado por todas as acusações de corrupção e má gestão de fundos", disse a correspondente da DW em Colombo, Manira Chaudhary.

O novo Governo vai ter de lidar com a crise económica histórica no Sri Lanka, mas "a estabilidade económica não chegará, enquanto a estabilidade política não chegar", disse Chaudhary. "O caminho vai ser muito difícil. O Sri Lanka precisa imperativamente de um Governo estável".

O executivo terá de negociar as condições de resgate financeiro com o Fundo Monetário Internacional e a reestruturação da enorme dívida, bem como reduzir a inflação. O processo exige a maior transparência "para mostrar onde toda a ajuda vai ser aplicada, porque os cingaleses já não confiam na administração pública", disse Chaudhary.

A queda de linhagem Rajapaksa

Na terça-feira, funcionários da imigração impediram o antigo ministro das Finanças Basil Rajapaksa, irmão do Presidente, de abandonar o país.

Protestos em Colombo
O irmão do Presidente, Mahinda Rajapaksa, foi obrigado a renunciar à chefia do Governo em maioFoto: Ishara S. Kodikara/AFP/Getty Images

O ato marcou a perda de influência da família Rajapaksa, que dominou a política local no distrito do Sul, de que é oriunda, durante décadas, antes de consolidar o poder a nível nacional em 2005 quando Mahinda Rajapaksa foi eleito Presidente.

A presidência de Mahinda Rajapaksa coincidiu com o fim brutal da guerra civil de 26 anos, que resultou no esmagamento dos rebeldes tamiles em 2009. Na altura, Gotabaya Rajapaksa era ministro da Defesa. Desde então tem vindo a ser acusado de crimes de guerra e tortura, que sempre negou.

Mahinda permaneceu no poder até 2015, quando perdeu inesperadamente para a oposição liderada por um antigo assessor.

A família regressou ao poder em 2019, após os sangrentos atentados à bomba no Domingo de Páscoa daquele ano, prometendo mais segurança. Gotabaya Rajapaksa foi eleito Presidente.

Em agosto de 2020, o seu partido ganhou uma maioria de dois terços no Parlamento, o que lhe permitiu revogar as leis que limitavam o poder presidencial, incluindo o limite de dois mandatos. Depois nomeou Mahinda para primeiro-ministro e colocou outros familiares em funções ministeriais de relevo.

Mahinda renunciou ao cargo de primeiro-ministro na sequência de ataques dos seus apoiantes contra manifestantes antigovernamentais no dia 9 de maio.

Antes de fugir, Gotabaya Rajapaksa foi o último de seis membros da sua família a tentar agarrar-se ao poder a todo o custo.