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Retrospetivas do ano 2011 - Parte 2: Crise, crise, crise e nenhum fim à vista

Gouveia, Helena de23 de dezembro de 2011

Se se tivesse que escolher uma palavra para definir 2011 na Europa, essa palavra seria "crise". Esta crise é uma crise bancária e financeira, mas também uma crise do sistema político. Uma viagem pela Europa...

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Na origem da crise estiveram os bancos. Os institutos financeiros especularam, investiram em títulos duvidosos, perderam milhares de milhões de euros e os contribuintes tiveram de os estabilizar pagando as dívidas. Só que os milhares de milhões usados para salvar os bancos traduziram-se no aumento das dívidas públicas para valores recorde.

Em países como a Grécia e Portugal, à crise financeira sucedeu-se uma crise da dívida. Tal como havia sido na Irlanda que recorreu a uma intervenção externa ainda em 2010 depois do salvamento dos bancos irlandeses.

Demissão 1: Papandreou na Grécia

A crise financeira fez em 2011 várias vítimas políticas de peso. Contestado nas ruas pelas medidas de austeridade, impostas pelo FMI e pela União Europeia em troca da ajuda financeira à Grécia, o primeiro-ministro grego, Giorgos Papandreou, viu-se forçado a sair de cena, dando lugar a Lucas Papademos.

O ex-vice-presidente do BCE deverá ficar em funções até as eleições antecipadas, que ainda não tem data prevista apesar de se falar em meados de Fevereiro de 2012.

Demissão 2: Berlusconi na Itália

Assustado com cenário de bancarrota da Itália o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, pediu demissão. Recorde-se que Itália é a terceira economia da Europa e o seu colapso significaria a implosão da zona euro, com efeitos dramáticos nas outras grandes economias e devastadores nos "elos fracos" como Portugal.

A total perda de credibilidade do chefe do Governo italiano, Berlusconi, transformara-se no acelerador da corrida para o abismo. O fim de Silvio Berlusconi foi ditado por uma pressão conjunta dos mercados financeiros e dos principais políticos europeus. O controverso político foi substituído por uma figura respeitável ex-comissário europeu da Concorrência, Mario Monti.

"Geração à Rasca" em Portugal

"Parva Que Sou", a música do grupo Deolinda, tornou-se uma espécie de hino para a "Geração à Rasca" em Portugal, a geração de jovens na maioria licenciados e que devido à crise que o país atravessa não conseguem encontrar emprego. O protesto juvenil deu o mote a inúmeros protestos e greves que se realizaram ao longo do ano em Portugal.

O novo governo de Pedro Passos Coelho impôs um draconiano plano de austeridade ao abrigo do memorando de entendimento assinado com a Troika - Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu - em Maio. Este acordo garantiu ao país uma ajuda externa no valor 78 mil milhões de euro.

Para os portugueses as medidas de austeridade traduzem-se num aumento de impostos, corte dos subsídios de férias e de Natal para funcionários públicos.

Mais crise à vista

Não obstante as declarações dos líderes políticos dos Vinte e Sete, e as medidas acordadas na cimeira de Dezembro, os mercados continuam nervosos. Estão mais animados pelas perspectivas de crescimento da economia americana do que com algum sinal de estabilidade na economia europeia.

Os juros da dívida soberana de Espanha e de Itália estabilizaram, por agora. O Banco Central Europeu injetou liquidez no sistema financeiro, mas os mercados interbancários continuam parados. Os bancos preferem colocar o seu dinheiro ao abrigo seguro do BCE em vez de emprestar o dinheiro aos outros bancos.

2012 será certamente um novo ano sobre o signo da crise e para o final de Janeiro já está agendada uma nova cimeira europeia. Será a décima quinta tentativa de salvar o euro.

Um Contraste apresentado por Helena Ferro de Gouveia.

Autora: Helena de Gouveia
Edição: Johannes Beck