Morte de Nhongo deve ser "mais um sinal" para aderir ao DDR
19 de outubro de 2021A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) continua a chamar os dissidentes da autoproclamada "Junta Militar" a reintegrarem as fileiras do partido, sublinhando que a morte do líder do grupo, Mariano Nhongo, deve ser um "momento de profunda reflexão".
Em entrevista à DW África, o porta-voz do maior partido da oposição moçambicana, José Manteigas, garante que a RENAMO está de braços abertos para receber estes ex-guerrilheiros e pronta para os encaminhar para o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), no âmbito do acordo de paz assinado com o Governo em agosto de 2019.
DW África: Como é que está neste momento o processo de DDR? Mudou alguma coisa com a morte do líder da "Junta Militar"?
José Manteigas (JM): São duas situações diferentes. Temos o DDR, independentemente da "Junta Militar" e do que aconteceu no seio da "Junta Militar". Sobre o decurso do DDR, já foram desmobilizados mais da metade dos combatentes, só que [este processo] está a sofrer alguma lentidão. E o aspeto que preocupa mais é o facto de que, desses combatentes desmobilizados, vários ainda aguardam a atribuição de espaços para a construção das suas casas. Além de que, muito deles, que vinham recebendo ao longo do primeiro ano, deixaram de ser pagos. Mas era suposto que logo a seguir tivessem as suas pensões fixadas, o que não está a acontecer.
DW África: Na prática, há alguma forma de resolver esta questão dos atrasos nos apoios financeiros, estão a tomar algumas medidas?
JM: Muito recentemente, o presidente [da RENAMO], Ossufo Momade, teve encontros com os embaixadores, os que estão no grupo de contacto e todos aqueles que estão envolvidos neste processo para a pacificação do país. E o presidente Momade tem tido contactos permanentes com o Governo para que esta lentidão e estes percalços que são conhecidos não levem a uma descontinuidade do processo, porque isto pode trazer consequências não muito agradáveis para os combatentes. Isso pode, mais uma vez, pôr em causa este processo de paz, que se pretende que seja definitivo.
DW África: Depois da morte de Mariano Nhongo, o secretário-geral André Magibire disse que estão de braços abertos para receberem os dissidentes que quiserem voltar à RENAMO. Mas esse convite inclui o apoio a estes ex-guerrilheiros para a inclusão no DDR? Estão dispostos a mediar este processo com os membros da Junta ou essa seria uma tarefa do Governo?
JM: O presidente Ossufo Momade sempre apelou para que regressassem às fileiras e se integrassem ao DDR. Há sempre uma resistência, mas o partido RENAMO está sempre de braço abertos. E mesmo por parte do Presidente da República [Filipe Nyusi, da FRELIMO], há sempre apelos para que voltem e façam parte do DDR.
DW África: Portanto, a partir do momento em que estiverem dispostos a voltar, a RENAMO está do lado deles para os apoiar nesta reintegração?
JM: Efetivamente, porque, aliás, mais de 70 combatentes que estavam na "Junta Militar" já voltaram e foram desmobilizados e reintegrados. Portanto, os que ainda lá estão têm toda essa facilidade e abertura de poder vir e enquadrar-se [no processo], sem nenhum problema.
DW África: Acha que com a morte do líder do grupo haverá menos resistência para eles voltarem?
JM: Quanto a isso, ainda no dia 17 de outubro, quando celebrávamos o aniversário de 42 anos da morte do primeiro líder da RENAMO, André Matsangaíssa, o presidente Ossufo Momade manifestava preocupação de termos visto um desfecho indesejável da vida de Mariano Nhongo. A sua morte criou preocupação, criou tristeza em todos nós moçambicanos, porque ele era um compatriota. Mas, por outro lado, Momade também dizia que o desaparecimento físico de Mariano Nhongo deveria ser mais um sinal para sensibilizar os seus compatriotas, de forma a deporem as armas. A morte do líder da "Junta Militar" deve também ser um momento de profunda reflexão e de equacionarem uma nova maneira de se reivindicar seja o que for. Portanto, depondo as armas e integrando o processo DDR.
DW África: Destacaram também a necessidade de "perdoar" estes ex-combatentes no âmbito da reconciliação nacional. Além do "perdão", o que é preciso fazer?
JM: As portas da RENAMO estão abertas. Eles deram o seu contributo na luta pela democracia. E essa democracia que hoje vivemos é também fruto do sacrifício deles, daí que as portas estão abertas. O máximo que o partido têm a fazer é manter essas portas abertas e que eles se integram ao partido e contribuam, dentro das suas capacidades, para o crescimento da democracia no país. Achamos que essa é a melhor maneira de consolidar a democracia e, sobretudo, a reconciliação interna no seio do partido.