RENAMO critica silêncio de Nyusi sobre protestos
29 de outubro de 2023O presidente da RENAMO acusou, este domingo (29.10), o chefe de Estado moçambicano de tentar "empurrar o país para uma nova guerra" face a repressão policial de marchas que contestam os resultados eleitorais, considerando que o seu partido não vai recuar.
"É inacreditável que perseguições e matanças de cidadãos não mereçam nenhuma preocupação da PGR, muito menos do Presidente da República. Esta atitude representa cumplicidade (...) Inquieta aos moçambicanos que o senhor Filipe Jacinto Nyusi, Comandante-chefe das Forças de Defesa e Segurança, esteja a demonstrar, com a sua voz de comando, que pretende empurrar o país para uma nova guerra", declarou Ossufo Momade, durante uma conferência de imprensa realizada em Maputo.
Em causa está a repressão policial das marchas lideradas pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) para protestar contra os resultados das eleições de 11 de outubro, onde a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi anunciada como vencedora em 64 das 65 autarquias.
Ossufo Momade reiterou que o seu partido não vai recuar até que se reponha a "verdade eleitoral", considerando que a RENAMO tem provas (editais) que mostram que o partido venceu em diversas autarquias.
"Exortamos a todos os amantes da paz, democracia e do bem-estar a continuarmos firmes na luta pela reposição da vontade expressa no dia 11 de outubro, porque somos por eleições livres, justas e transparentes", declarou.
"Há perseguição"
O presidente do principal partido de oposição em Moçambique criticou também a atuação da polícia moçambicana durante os protestos em diversos pontos de Moçambique, denunciando uma alegada perseguição aos seus membros.
"Há perseguição e detenções arbitrárias de cidadãos, bem como invasão e cerco às delegações políticas do partido RENAMO, como é o caso da cidade de Nampula e Maputo-cidade, nesta última onde inclusivamente houve vasculha no terraço do edifício", afirmou Momade.
"É inexplicável que nesta senda de autêntico terrorismo da Polícia contra os cidadãos e o Estado estejam envolvidos cidadãos vestidos à civil empunhando e disparando armas como se tratasse de mercenários", acrescentou o líder da RENAMO, em alusão a um grupo de homens armados, presumivelmente da polícia, que foram vistos, à paisana, procurando manifestantes na sexta-feira no meio da agitação em Maputo.
A RENAMO tem promovido, um pouco por todo o país, marchas de contestação aos resultados das eleições, juntando milhares de pessoas que denunciam uma alegada "megafraude" no escrutínio.
Sobe número de feridos em Nampula
Em declarações à Televisão de Moçambique, Paulino Julião, médico chefe do distrito de Nacala, fez saber quepelo menos 16 pessoas ficaram feridas, na cidade de Nacala-Porto, em Nampula, durante as manifestações de sexta-feira.
O Centro de Integridade Pública (CIP) avançou, durante a semana passada, que um agente da polícia e um jovem morreram durante as manifestações em Nampula e em Nacala, informação que a polícia não confirmou até ao momento.
As autoridades, admitiram, no entanto, que pelo menos 10 pessoas ficaram feridas e outras 70 foram detidas durante as escaramuças em Nacala-Porto, Maputo, Quelimane e Nampula, locais onde decorreram as manifestações.
Silêncio de Nyusi
Ouvidos pela agência de notícias Lusa, analistas consideram prudente que o Presidente da República ainda não se tenha pronunciado sobre os distúrbios registados nas manifestações, uma vez que o escrutínio ainda não foi validado e proclamado pelo Conselho Constitucional, como prevê a legislação eleitoral do país.
"As eleições ainda não acabaram, o Presidente da República [Filipe Nyusi] não se tem que pronunciar" em relação à tensão gerada pelo anúncio, na quinta-feira, pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) dos resultados, considera Fernando Lima, jornalista e analista político.
Segundo Lima, um posicionamento do chefe de Estado seria interpretado como a favor da FRELIMO.
"Este Presidente da República é o presidente de um dos contendores das eleições [a Frelimo], acho que é importante ele não se pronunciar, não fazer pender eventualmente o prato da balanço a favor da formação política que ele dirige", frisou.
Gil Laurenciano, analista político e docente na Universidade Joaquim Chissano, partilha da mesma opinião.
"Ele fez todos os apelos antes das eleições para que tudo isso corresse bem e agora eu acho que ele tem que esperar pelo Conselho Constitucional", disse.