Rebeldes querem segunda revolução na Líbia
14 de dezembro de 2011Na terça-feira (13.12), na cidade de Benghazi, no leste do país, onde começou a arder o rastilho da revolução líbia, um expressivo grupo de manifestantes, fez ouvir a sua voz contra o Conselho Nacional de Transição (CNT). Um sinal de que os jovens rebeldes líbios estão longe de satisfeitos com a morte do ex-ditador, com o fim da sangrenta guerra civil e com os novos homens fortes do país.
No mesmo local onde, em 15 de fevereiro, se realizou a primeira manifestação contra o então todo-poderoso coronel Kadhafi, na praça Al-Chajara, na segunda (12.12) e na terça-feira, revolucionários líbios descontentes e frustrados com a atual situação política no país, mostraram os dentes ao governo provisório. Mais de cinco mil gritaram "abaixo o novo regime!" Pela primeira vez desde a queda de Kadhafi, o novo poder foi contestado em dois protestos públicos.
Prioridade para os rebeldes
Mustapha Djalil, líder do Conselho Nacional de Transição, foi um dos principais alvos dos opositores, após ter afirmado, na semana passada, que a Líbia deve perdoar os apoiantes de Kadhafi, que combateram o movimento revolucionário. “O caminho certo”, disse Djalil, “exige unidade e rejeita ruturas. Para construirmos o nosso futuro devemos optar pelo compromisso e pela tolerância.”
Os organizadores da manifestação contra o CNT dizem que não estão contra Mustapha Djalil, mas sim contra membros da Comissão que classificam de corruptos. Por outro lado, acusam o CNT de falta de transparência sobre as suas atividades e sobre os membros que o integram. Os manifestantes anti-CNT exigem que as reformas deem prioridade aos ex-rebeldes e aos feridos e estropiados que combateram o ex-regime. Por outro lado, querem que os membros do CNT não participem nas eleições legislativas marcadas para 2012.
Jovens rebeldes sentem-se marginalizados
Em declarações que prestou à Deutsche Welle, Andreas Dittmann, professor e especialista em questões líbias da Universidade de Gießen, na Alemanha, falou sobre o que pode desencadear uma segunda revolução na Líbia: "São jovens idealistas do leste do país, entre os quais muitas mulheres, que começaram esta revolução e a fizeram avançar”.
Após assumir o poder, o governo provisório afastou estes jovens do processo governativo e escolheu políticos seniores. Segundo Dittmann: “Alguns deles já tinham assumido cargos governativos durante o regime de Kadhafi. Se estes jovens continuarem a sentir-se marginalizados pelo governo líbio não é de excluir a possibilidade de uma segunda revolução.”
Conselho Nacional de Transição promete transparência
A questão agrava-se ainda mais quando existem confrontos entre milícias rivais. Durante o fim de semana (10.12 e 11.12), houve uma troca de tiros entre ex-combatentes rebeldes e elementos do novo exército líbio. Na passada segunda-feira, houve noticia de outros confrontos armados a sul da capital, Trípoli. Para o professor Dittmann, a questão é preocupante e exige medidas sensatas e eficazes: "É fundamental que daqui não resulte uma situação de caos pós-revolucionário. É preciso proceder à desmobilização e desarmamento da população civil”. Dittmann acrescenta ser “muito importante” para o futuro da nova Líbia que a responsabilidade das decisões não seja imposta do exterior, “mas antes que seja atribuída aos líbios”.
O Conselho Nacional de Transição líbio reagiu às manifestações da oposição prometendo transparência sobre as atividades e a sua composição do Conselho e pediu "paciência" aos descontentes. Resta saber se a juventude rebelde líbia está disposta a acalmar os ânimos dando ao país o benefício do tempo e aos políticos o beneficio da dúvida.
Autores: Monika Dittrich/Pedro Castro
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha