Perigo de morte para burros em África
28 de fevereiro de 2018Os burros de África estão a desaparecer. Como de costume, a culpa é do homem. Mas a causa não é, como muitas vezes quando se extingue uma espécie, a urbanização, a desflorestação ou a poluição. Desta vez trata-se pura e simplesmente de roubo. É que na China há quem acredite na superstição de que a gelatina derivada da cozedura de pele de burro cura doenças. E em África há quem esteja disposto a alimentar essa superstição a troco de dinheiro.
Akasoma James vive em Doba, uma pequena aldeia no norte do Gana. Tal como muitos outros, James é proprietário de vários burros. Precisa dos animais para sobreviver pois são eles que puxam o arado e lhe servem de meio de transporte. Mas Akasoma James tem um problema: "Já por várias vezes tentaram roubar os meus burros... mesmo do meu quintal. Uma vez vieram à noite e levaram todos os burros."
Grande procura na China
O motivo dos roubos é a elevada procura de burros na China. Manda a tradição e a superstição nesse país que o chamado "ejao", uma gelatina extraída da fervura de pele de burro, é boa para a pele e cura a impotência e a infertilidade.Como a criação em massa de burros é muito difícil por motivos biológicos, os chineses voltaram-se para o continente africano. Países com fortes laços comerciais com o gigante asiático são agora os principais fornecedores. Simon Pope, da organização britânica de defesa dos animais "Santuário do burro", diz que inicialmente os proprietários africanos saudaram a procura chinesa.
"Quando os preços dispararam, muitos venderam os animais de que não precisavam. Há um enorme incentivo financeiro para a venda de burros."
Mas quando mais ninguém quis vender começaram a acumular-se os casos de roubo, que retiraram a muitas pessoas a base da sua subsistência, diz Pope.
Governos africanos reagemOs Governos africanos reagiram de forma diversa a esta crise. A Tanzânia proibiu o abate e a exportação de burros, numa tentativa de evitar a extinção. Uma medida eficaz que levou à queda de preços como afirma Simon Pope:
"O que significa que os agricultores e outros indivíduos já podem comprar os animais e os roubos diminuíram consideravelmente".
No Quénia o Governo autoriza o abate para a exportação. Há três açougues no país, mas ninguém sabe ao certo quantos burros por lá passam. A população começa a protestar, mas os críticos acreditam que Nairobi quer proteger os postos de trabalho e não pretende renunciar às receitas geradas pelas taxas alfandegárias.
Na Etiópia, protestos populares obrigaram o Governo a encerrar um matadouro chinês algumas semanas apenas após a sua inauguração. Mas muitas vezes os burros etíopes e de outros países acabam por ser transportados para o Quénia onde o abate é legal.
No Gana a lei proibe o comércio com pele de burro, mas esta praticamente não é implementada. Porém, face à crescente resistência por parte dos africanos, os principais produtores chineses de gelatina à base de burro prometem agora apostar mais na criação própria. Uma boa notícia para o burro africano.