Presidente do Zimbabué já pode escolher principais juízes
26 de julho de 2017Priscilla Misihairabi, membro da oposição que fez campanha contra estas alterações constitucionais, afirma que estas alterações vão contra o que o povo o Zimbabué votou em 2013 - altura em que foi feita a última mudança constitucional, que retirava precisamente esse poder a Robert Mugabe.
"Porque é que ignoramos a vontade do povo?", questiona Misihairabi. "Isto vai contra qualquer regra básica da democracia. Um dos pilares da democracia é a separação de poderes", lembra.
Estas alterações surgem depois de, no início deste ano, Godfrey Chidkyausiku, até então presidente do Tribunal Supremo, se ter reformado aos 70 anos, tal como a lei prevê. Mas antes de Chidkyausiku deixar o cargo, a Comissão de Serviços Judiciais já tinha começado a fazer entrevistas para encontrar o seu substituto.
O órgão chegou a enviar uma lista dos últimos três candidatos ao cargo, para Mugabe poder escolher o próximo presidente do Tribunal Supremo, a última instância.
O plano falhou e, por isso, o partido no poder, a União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (ZANU-PF), resolveu levar ao Parlamento uma proposta para alterar a Constituição, dando a Robert Mugabe o poder necessário para a nomeação dos três principais cargos da justiça zimbabueana: o presidente do Tribunal Supremo, o seu vice-presidente e o presidente do Tribunal Superior.
Um juiz, dois chapéus
Jonathan Samukange, advogado e membro do Parlamento, relembra que o presidente do Tribunal Supremo não é um juiz normal: tem de usar não só um "chapéu judicial", mas também um "chapéu político". E que é, por isso, importante, que tenha boas relações com o chefe de Estado. "O Presidente deve poder escolher com quem quer trabalhar", sublinha Samukange.
O Presidente Robert Mugabe ainda não prestou quaisquer declarações públicas relativamente a esta questão.
Observadores internacionais afirmam que estas alterações podem ter implicações diretas nas eleições de 2018, uma vez que cabe ao Tribunal Supremo decidir quem resolverá disputas nas votações.