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PolíticaSenegal

Presidente do Senegal não concorre a terceiro mandato

bd | com agências
4 de julho de 2023

Macky Sall anunciou que não irá candidatar-se a um terceiro mandato em 2024. O Presidente do Senegal prometeu respeitar o limite de dois mandatos, afastando desta forma os receios de um retrocesso democrático no país.

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Macky Sall, Presidente do Senegal
Foto: Lewis Joly/AP/picture alliance

Macky Sall, que dirige o Senegal desde 2012, fez ontem à noite um longo discurso à nação transmitido pela televisão estatal. "Caros compatriotas, a minha decisão cuidadosamente ponderada é não ser candidato às próximas eleições de 25 de fevereiro de 2024, embora a Constituição me dê o direito de o fazer", anunciou.

"De facto, desde a revisão constitucional de 2016, o debate jurídico foi definitivamente resolvido pela decisão do Conselho Constitucional número 1, de 12 de fevereiro de 2016", frisou o chefe de Estado.

Horas antes do discurso à nação, o líder da oposição senegalesa, Ousmane Sonko, tinha prometido protestos "em massa" contra o Presidente caso Macky Sall anunciasse a candidatura a um terceiro mandato, alegando que seria uma violação da Constituição senegalesa.

Os rumores de que Sall tentaria prolongar a sua permanência no poder alimentaram, desde 2021, episódios de agitação nas ruas do país, em que dezenas de pessoas foram mortas, e abalaram a reputação do Senegal como bastião de uma democracia estável em África.

Apoiantes de Ousmane Sonko envolveram-se em confrontos com as forças de segurança, depois de o líder da oposição senegalesa ter sido condenado à prisão a 2 de junho
Apoiantes de Ousmane Sonko envolveram-se em confrontos com as forças de segurança, depois de o líder da oposição ter sido condenado à prisão a 2 de junho Foto: ZOHRA BENSEMRA/REUTERS

"Tem havido muita especulação"

Macky Sall diz que pretende manter a tradição democrática do país, refutando a ideia de ser uma decisão tomada devido a pressão popular provocada pelo seu opositor.

"Tem havido muita especulação e comentários sobre a minha candidatura a estas eleições. No entanto, nunca quis ficar refém desta injunção permanente de falar antes da hora, porque as minhas prioridades eram sobretudo a gestão de um país, de uma equipa governamental coerente e empenhada em agir para a emergência, sobretudo num contexto socioeconómico difícil e incerto", justificou.

Alguns receavam que Sall seguisse o exemplo de outros líderes regionais, incluindo os da Costa do Marfim e do Togo, que utilizaram as alterações à Constituição como desculpa para redefinir o seu mandato e prolongar o seu poder. Mas Macky Sall diz que o Senegal tem outros líderes capazes de fazer emergir o país, por isso, não se candidatará à reeleição nas eleições de 2024.

A decisão de não prosseguir o controverso terceiro mandato, cujos rumores deram origem a protestos por vezes mortíferos, foi recebida com emoção pelos seus apoiantes: "A escolha é dele e ele é o nosso líder. Aceitamos a sua decisão e apoiaremos quem ele nomear. Mas ele devia ter cumprido um segundo mandato de cinco anos, porque tem todo o direito de o fazer."

Outro apoiante diz que Macky Sall aliviou as tensões no país: "Ele prometeu aos senegaleses e cumpriu a sua palavra. É o Presidente da República e não é bom que um Presidente renuncie a si próprio. Se ele tivesse decidido fazer um terceiro mandato, teria sido complicado para o país."

"É preciso respeitar a palavra dada, e foi esse respeito que nos conduziu a esta situação. A partir de agora, ele será muito respeitado a nível internacional. Ele fez o que podia pelo Senegal. O seu ato é nobre e ele agiu como uma pessoa respeitável", sublinhou ainda.

Ousmane Sonko, líder da oposição senegalesa
Ousmane Sonko, líder da oposição senegalesaFoto: Fatma Esma Arslan/AA/picture alliance

Elogios de Sissoco

Também os líderes regionais, incluindo os Presidentes do Níger, Mohamed Bazoum, da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, e o presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, elogiaram a decisão de Sall.

Para Umaro Sissoco Embaló, Macky Sall "provou ao mundo a sua grandeza como um estadista e homem de palavra", escreveu o chefe de Estado da Guiné-Bissau, país que faz fronteira com o Senegal.

O principal opositor de Sall, Ousmane Sonko ainda não reagiu. Popular entre os jovens pelo seu discurso contra o sistema e as suas críticas à má governação, corrupção e neocolonialismo francês, Sonko denunciou a "instrumentalização" da justiça por parte de Sall para o impedir de concorrer às presidenciais, já que foi condenado a dois anos de prisão em junho por abuso de uma massagista menor de 21 anos.