Presidente angolano em esforços para mediar tensões
21 de fevereiro de 2020No início de fevereiro, sob a mediação de Lourenço em Luanda, os Presidentes Yoweri Museveni e Paul Kagame prometeram não apoiar ações desestabilizadoras nos territórios vizinhos. Agora, a esperança de muitos cidadãos é que a fronteira seja reaberta.
Os populares na fronteira de Gatuna/Katuna, entre o Uganda e o Ruanda, têm sentido na pele as consequências das tensões entre os dois países. Há um ano, o Ruanda decidiu fechar a fronteira e cortou uma via nevrálgica do comércio. Além disso, muitos habitantes ficaram sem poder ver os familiares, que vivem do outro lado.
As consequências
James Kamanzi mora no Ruanda e há muito tempo que não vê os pais doentes: "Afetou-me bastante. A nossa família tem propriedades, os meus pais estão a envelhecer e eu devia ir lá ver como eles estão e como estão as coisas. Eles estão muito adoentados e não os vejo há quase dois anos. Portanto, afetou-me bastante."
Kamanzi conta que o Ruanda tem insistido que nunca fechou a fronteira - alertou apenas as pessoas a não viajarem para o Uganda, porque, segundo o Governo, há cidadãos ruandeses que são detidos e torturados no país vizinho. Mas a verdade é que as pessoas estão impedidas de viajar para o outro lado. Quem vive na fronteira quer apenas que a situação volte ao que era antigamente.
"Faltei a funerais de amigos meus. Não pude estar em dois ou três casamentos de amigos e em dois funerais de vizinhos. E você sabe que, na nossa cultura, temos de lá estar quando se perde alguém", lamenta Kamanzi.
A reabertura da fronteira é crucial para reduzir as tensões políticas e económicas, continua Kamanzi. Os preços dos produtos da cesta básica mais do que duplicaram de há um ano para cá.
"As pessoas estão a perder o emprego e ficaram falidas. Não há dinheiro, não há comércio", conta o residente no Ruanda.
Os dramas das viagens
A ironia é que a fronteira fechou em Gatuna/Katuna, mas os ruandeses que vão de avião continuam a poder viajar para o Uganda. Só que nem todos podem comprar o bilhete. Cidadãos como Mark Mulindwa optaram por fazer uma viagem mais longa até ao Uganda, passando pela Tanzânia, embora também tenha ficado caro.
"Chamaram-me para fazer uma coisa importante e tive de me organizar. Fui pela Tanzânia até ao posto fronteiriço de Mutukula e depois até ao Uganda. Foi muito caro. Não valeu a pena, mas foi assim. Gastei cerca de 250 dólares", diz Mulindwa.
Analistas acreditam que, mesmo com a reabertura da fronteira, a animosidade entre os dois Estados poderá continuar. O conflito entre o Uganda e o Ruanda dura há décadas.