1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Cabo Delgado: Ruanda quer ser "mártir" de Moçambique

1 de fevereiro de 2025

Ruanda vai enviar novo contingente militar para apoiar combate ao terrorismo em Cabo Delgado. Analista moçambicano diz que o Ruanda procura tornar-se "mártir" de Moçambique, servindo interesses dos seus financiadores.

https://p.dw.com/p/4pvV2
Presidente do Ruanda, Paul Kagame
Presidente do Ruanda, Paul Kagame, em Pemba, província de Cabo Delgado (arquivo 2021)Foto: Simon Wohlfahrt/AFP/Getty Images

O Ruanda vai reforçar a sua presença militar em Moçambique com o envio de novo contingente para apoiar o combate aos grupos terroristas em Cabo Delgado, com apoio financeiro da União Europeia. O Conselho da União Europeia aprovou em novembro um apoio adicional de 20 milhões de euros para as forças do Ruanda no combate ao terrorismo na província.

No entanto, ao mesmo tempo que se posiciona como aliado na luta contra insurgentes, o Ruanda é acusado de apoiar o grupo rebelde M23 na República Democrática do Congo, contribuindo para a instabilidade na região.

Essa dualidade levanta questões: estará Kigali a expandir a sua influência na África Austral com aval internacional? E como justificar o financiamento de uma força militar que enfrenta acusações de desestabilização em outros países?

Em entrevista à DW, o analista e ativista moçambicano Abudo Gafuro alerta que o Ruanda procura se tornar o "mártir" de Moçambique, servindo os interesses dos seus financiadores. 

DW África: O Ruanda tem sido acusado de apoiar o grupo rebelde M23 no leste da República Democrática do Congo, mas, ao mesmo tempo, ajuda a combater o terrorismo em Moçambique. Como explicar essa dualidade na política externa e militar do Ruanda?

Abudo Gafuro (AG): Primeiramente, sobre o reforço da presença das tropas ruandesas em Moçambique, é um aspecto muito preocupante e que traz um novo elemento para o conflito que está em curso em Cabo Delgado. O conflito ainda não terminou na província e a presença estrangeira pode vir a complicar ainda mais, ao invés de dar mais credibilidade à Força Local e às Forças de Defesa e Segurança (FDS), que devem estar fortalecidas e capacitadas para fazer frente aos rebeldes.

Mas, em contrapartida, o Ruanda vem para poder ser um mártir da província de Cabo Delgado e para Moçambique. Ou seja, apresentando-se como uma das soluções para o conflito de modo a servir os interesses de alguém que esteja a financiar, de uma forma ou de outra, o próprio Ruanda para poder estar cá em Moçambique e em Cabo Delgado.

DW África: Falou em interesses. Em que medida a exploração de recursos naturais está no centro dessas intervenções do Ruanda?

AG: Juridicamente a presença ruandesa está instalada mais a norte da província de Cabo delegado. Não está no sul ou espalhada um pouco por toda a província. E isso mostra que há uma clara intervenção para a proteção dos interesses de alguém de direito que esteja envolvido na exploração dos recursos naturais e expressamente do gás natural. E isso pode colocar em risco para a própria segurança e defesa da população moçambicana que está envolvida.

DW África: O que isso revela sobre os interesses estratégicos ruandeses e a forma como os aliados internacionais lidam com Kigali?

AG: A intervenção das forças estrangeiras neste momento pode vir a trazer mais danos do que benefícios. E é crucial que haja esforços diplomáticos para resolver o conflito de uma forma pacífica e sustentável.  e muito mais sobre o financiamento. Além disso temos, na minha opinião, um financiamento estranho da União Europeia  somente para as tropas ruandesas e excluindo o dono do território, ou seja, as força de defesa e segurança de Moçambique. E essa exclusão pode provocar outros danos, morais e militares.

Ruanda está a fazer jogo duplo em Moçambique e na RDCongo?