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Exploração de areias pesadas na Zambézia causa temor

21 de junho de 2024

Sociedade civil na Zambézia contesta novo projeto de extração de areias pesadas na praia de Zalala, em Quelimane. Teme-se o impacto negativo para a população e para a região, mas a empresa chinesa aponta benefícios.

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Exploração de areias pesadas em Nampula (foto ilustrativa)
Exploração de areias pesadas em Nampula (foto ilustrativa)Foto: Roberto Paquete/DW

É um projeto com vários pontos de interrogação. A empresa Africa Ocean pretende explorar areias pesadas na praia de Zalala e noutras regiões do litoral na província da Zambézia, mas membros da sociedade civil e responsáveis locais colocam várias questões sobre o impacto económico, social e ambiental desses planos.

No início da semana passada, várias organizações da sociedade civil sedeadas em Quelimane sentaram-se à mesma mesa para discutir estratégias travar o projeto.

Em comunicado, as organizações disseram que não querem o projeto devido a más experiências do passado com "empresas instaladas na Zambézia para a exploração de areias pesadas", incluindo falta de transparência, a destruição de ecossistemas e problemas de terras e falta de compensações.

Dionísio Graciano, da organização Mulaba, questiona: "Olhando para o facto de a maior parte da população da Zambézia viver na zona costeira, como é que [estas pessoas] se vão beneficiar daqui para a frente? Há quem nasça no mar e morra pelo mar. A base da sua sobrevivência é do pescado. Como é que isso está garantido?"

A administração local teme, por seu lado, que a província da Zambézia se torne num corredor de acidentes marítimos, com a exploração de areias pesadas nas águas rasas da praia de Zalala, da forma como o projeto foi delineado.

Esta quinta-feira (20.06), a empresa Africa Ocean, de capital chinês, convidou individualidades dos Ministérios do Ambiente, Mar e Pescas, membros da sociedade civil e chefes das localidades do distrito de Quelimane para discutir estratégias de viabilidade da exploração dos recursos.

Em Inhassunge, outra empresa chinesa que explora areias pesadas, a Africa Great Mining Company, também enfrentou resistência dos moradores
Em Inhassunge, outra empresa chinesa que explora areias pesadas, a Africa Great Mining Company, também enfrentou resistência dos moradoresFoto: Mueia, Marcelino

Governo ignora o "não" da sociedade civil

Onessio Bacia, geólogo da empresa, tentou dirimir algumas das preocupações, frisando que foi feito um estudo de impacto ambiental e social, e todas essas questões teriam sido acauteladas. Ao mesmo tempo, Bacia chamou a atenção para as mais-valias da exploração das areias pesadas na região.

"Essa exploração vai acontecer nas águas rasas naquela faixa onde a profundidade não é muito elevada. A ilmenite é o minério que nos interessa como empresa, é utilizada como pigmento na indústria de tintas especiais, plásticos; também o zircão é utilizado na indústria de ligas, devido à sua elevada resistência mecânica e corrosiva. São metais muito importantes no mercado internacional e têm um valor económico."

Os convidados no evento chumbaram o projeto. Carlos Joaquim, representante da Confederação das Associações Económicas do ramo da indústria extrativa na Zambézia, diz que está preocupado.

"Naquela sala, não se concordou nada. Eu já participei em duas, três ou quatro consultas públicas e dissemos claramente que não queremos. Mas a ministra do Meio Ambiente passou a licença para dar início ao projeto. O Governo não ouve a sociedade civil; pode cantar, saltar, chorar, não ouve".

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