Idai: Restos mortais de vítimas estão a surgir em Sofala
27 de abril de 2019As autoridades locais alojadas nos centros de acomodação de John Segredo e Muda-Nunes afirmam que quando se deslocam para as suas zonas de origem à procura de algum mantimento, deparam-se com corpos e crânios em estado avançado de decomposição.
Os corpos que têm estado a ser descobertos pela população reassentada em Nhamatanda estão em colinas, escombros e outros cobertos de lama e capim, e seriam de vítimas do ciclone Idai, segundo os relatos.
Aqueles reassentados dizem ser triste o cenário que se vive naquele distrito, pois quando se deparam com os corpos e crânios, lembram-se do sofrimento vivido no dia 14 de março, quando viram milhares de pessoas serem arrastadas pelas águas enfurecidas pelo ciclone tropical Idai.
Paulo Chimica, responsável pelo centro de acomodação de Muda-Nunes, disse que a situação é dramática, visto que alguns dos corpos foram arrastados de outras regiões e os funerais são realizados sem a presença de um familiar. "Pelo estado avançado de decomposição, é difícil identificar a família dos corpos e crânios que sempre vemos aqui em Nhamatanda", explica.
"Aqui, muita gente foi arrastada, porque todas as casas foram engolidas pelas águas e quem não subiu na árvore então não escapou, morreu. Até aqueles que também recorreram às árvores, pois alguns caíram por causa do tempo que se levou", relata o responsável de um dos centros de acomodação em Nhamatanda.
Corpos em decomposição expostos
Chimica acrescenta ainda que "até este momento, há corpos nos cantos dos rios que não foram sepultados". "Há vezes que deparamo-nos com esqueletos humanos e quando as autoridades governamentais são informadas sobre a descoberta de novos corpos, eles recolhem e enterram".
Paulo Chimica acrescenta que "há vezes em que nós, como responsáveis dos centros, mobilizamos alguns homens para enterrar os restos mortais". "Cada vez que enterramos um corpo, isso tende a diminuir, pois haviam muitos corpos soterrados nas baixas e nos leitos dos rios", conclui.
Nelito Jone, outro cidadão entrevistado pela DW África em Nhamatanda, diz que os corpos e crânios que são descobertos naquela região metem medo no seio da população reassentada, mas também semeia luto e dor para aquelas famílias que viram seus parentes serem arrastados pelas águas.
"Quando vamos às nossas baixas à procura de alguma coisa para comer - como espigas de milho, frutas, verduras e outros alimentos - encontramos sempre restos mortais. Para além dos restos mortais na região, há mau cheiro", revela.
"Assim que as chuvas pararem, queremos ir reconstruir nas zonas de onde cada um veio, mas com as ossadas que lá há, semeia-nos medo", afirma. E faz um apelo: "Pedimos às autoridades para fazerem algo visando acabar com os restos mortais arrastados pela fúria das águas provocadas pelo ciclone Idai".