População paralisa obras da Kenmare em Nampula
13 de dezembro de 2019A população pediu à empresa irlandesa Kenmare para parar as máquinas assim que se apercebeu que a nova zona de exploração da mineradora implicaria a destruição de três cemitérios. Um deles fica em Pilivili, distrito de Moma, e os outros numa região que dá acesso à localidade.
Marracuene Abacar, coordenador do Comité de Gestão de Recursos Naturais de Topuito, uma organização não-governamental, diz que a insatisfação da população é grande. Um dos cemitérios, na comunidade de Tipane, é "enorme", segundo Abacar. "Outras gerações não conheceram outro senão o mesmo, desde a era dos nossos antepassados", conta.
A Kenmare opera em Topuito, no distrito de Larde, há cerca de 12 anos, mas prevê agora expandir a área de exploração para a região de Pilivili. Os residentes dizem que, durante as consultas comunitárias no início do ano, não foram informados que, para expandir a área de exploração, teriam de ser destruídos cemitérios.
Trabalhos paralisados há duas semanas
Quando começaram a ver marcos nos cemitérios para a movimentação das máquinas, pediram de imediato à Kenmare para parar as obras. E a empresa concordou. Os trabalhos estão paralisados há duas semanas.
"Nós solicitámos à empresa para esclarecer as razões de abranger os cemitérios, uma vez que nunca nos teriam dito da sua abrangência. A empresa confessou a verdade, que não sabiam que os consultores que fizeram o estudo de viabilidade teriam abrangido cemitérios, e prometeram-nos que conversariam com os consultores para colocarem de fora os cemitérios", conta o coordenador do Comité de Gestão de Recursos Naturais de Topuito.
Há também ouutro problema: vários residentes pedem para ser reassentados, segundo Marracuene Abacar. "Verifica-se que nesse traçado que sairá de Namalope a Pilivili, de 23 quilómetros de cumprimento e cem metros de largura, a máquina de compactação que vai passando nas comunidades mais próximas de Topuito-sede e Tipane logo na primeira fase já criou danos através do movimento vibratório. Assemelha-se a um terramoto e destrói eletrodomésticos. As comunidades paralisaram as máquinas para exigir um novo reassentamento", explica.
Governo diz estar atento
O diretor provincial dos Recursos Minerais e Energia de Nampula, Olavo Deniasse, garante que está atento aos problemas da população. Deniasse adianta que decorrem negociações entre as comunidades, a empresa e as autoridades.
"Nós reconhecemos que, de facto, um dos sítios em que eventualmente vai passar será um sítio sagrado e não se tinha discutido no plano estratégico nessa altura, para a passagem [das máquinas], mas vamos estar atentos às conversas e negociações", promete. "Interessa-nos que a empresa trabalhe, mas não nos interessa que trabalhe prejudicando as comunidades. Acreditamos que vai ser encontrado um ponto último para os trabalhos poderem continuar", afirma.
A DW África tentou ouvir a empresa Kenmare, através da responsável da área social, mas não foi possível obter uma reação.