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O clima de terror, à noite, em Maputo

18 de novembro de 2024

Depois dos "panelaços" propostos pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, em protesto contra os resultados eleitorais, assiste-se na capital moçambicana a cenários de anarquia: "Aquilo já não é greve, é sabotagem".

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Moçambique: Militares e bombeiros removem entulhos depois dos protestos em Maputo
Cenário de destruição depois dos protestos nas ruas e avenidas de cidades moçambicanas Foto: Amos Fernando/DW

A noite cai em Maputo e instala-se um clima de terror. Jovens imobilizam viaturas, exigem dinheiro e, em caso de recusa ou falta de colaboração dos automobilistas, partem vidros, abrem portas e saqueiam bens.

Este é um cenário que se repete em muitas ruas e avenidas dos subúrbios da capital Maputo, sobretudo em zonas problemáticas, onde falta segurança.

Recentemente, no bairro de Magoanine, na avenida Sebastião Mabote, uma senhora viu vários jovens a arremessar pedras contra um transporte público. "De repente estou a ver as pessoas a tirarem os pneus, a atirarem pedras. Eu repreendi uns jovens." Em declarações à DW, ela pediu para não ser identificada.

"Passou por aqui um transporte público e as pessoas começaram a atirar pedras. Além de estragar o transporte, vão aleijar as pessoas", relata.

Na avenida Julius Nyerere, na zona da lixeira de Hulene, antes mesmo do início dos "panelaços" convocados pelo candidato Venâncio Mondlane contra os resultados eleitorais, jovens com pedras nas mãos paravam viaturas para cobrar dinheiro em troca de continuar a sua viagem, segundo testemunhou a vendedora Raquiba Assumane.

"Aquilo já não é greve, é sabotagem e não podemos fazer coisas assim. Greve é todos marcharmos e ir onde há gente para tal", admite Assumane.

Consequência da fúria do povo

No bairro da Maxaquene, centro das manifestações, os jovens colocaram barricadas e queimaram pneus. Mas, segundo a dona Adélia, depois das 21 horas, os mesmos jovens atacavam viaturas em vez de bater panelas. Ela diz que isso é uma consequência da fúria do povo com as injustiças no país.

"A vida, de verdade, está mal cada dia que passa, mas o Governo não resolve nada", afirma. "Então, as pessoas resolvem com uma coisa errada, porque isto está errado. Talvez o Governo vai sentir", admite.

Moçambique: Manifestações de protesto em Maputo depois das eleições gerais
A dona Adélia, citada na nossa reportagem, diz que os protestos e vandalismo são consequência da fúria do povo face às injustiças no paísFoto: Jaime Álvaro/DW

A DW testemunhou, na hora dos "panelaços", jovens, crianças e algumas senhoras a cantar e a dançar na avenida Dom Alexandre, no bairro das Mahotas. A via estava bloqueada, criando uma enorme fila. Mas depois das 22 horas começou o terror.

Jovens com paus e pedras ameaçavam condutores aproveitando-se da ausência da polícia. Alguns automobilistas tiveram mesmo de passar a alta velocidade, pondo em perigo a vida destes jovens, para que as suas viaturas não fossem vandalizadas. É o que conta Zacarias Job.

"Não estou a entender, mas também não podemos ser assim, não é? Podemos marchar, mas deste jeito não", lamenta. "Até aqui falhámos muito, manifestar não é isto. As pessoas têm direito a manifestar, mas não é assim."

O analista e jornalista Fernando Lima disse à emissora STV, parceira da DW, que estas ações dos manifestantes têm a ver com a forma como as instituições estão a tratar o povo.

"Os representantes vão sistematicamente às eleições para escolher quem os representa. Se os representantes sentem que o seu voto foi roubado, não representa o seu crer, então, aqui estamos a criar uma subversão a este princípio em que acordámos que a sociedade seria organizada", conclui Fernando Lima.

As eleições gerais realizaram-se há mais de um mês, em Moçambique, e a Comissão Nacional de Eleições atribuiu vitória ao partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), e ao seu candidato presidencial Daniel Chapo. O Conselho Constitucional ainda não se pronunciou sobre as denúncias da oposição sobre as alegadas irregularidades no escrutínio.

Fim da quarta fase de protestos em Moçambique. E agora?