Os mísseis HIMARS podem mudar o curso da guerra na Ucrânia?
25 de julho de 2022No final de junho, a Ucrânia anunciou que tinha destruído uma base militar russa em Izyum, na região leste do Donbass, matando pelo menos 40 soldados. Outro ataque naquela noite teria matado um comandante do regimento de pára-quedistas de elite VDV da Rússia.
Estas foram as primeiras vítimas russas do HIMARS, o sistema de foguetes de artilharia de alta mobilidade M142, um sistema de mísseis de médio a longo alcance que permitiu à Ucrânia atacar além das primeiras linhas da frente da batalha, pela primeira vez, desde o início da invasão russa em fevereiro.
Os EUA começaram a enviar o sistema HIMARS para a Ucrânia em junho, quando a Rússia avançava através do Donbass e Lugansk numa ofensiva de artilharia pesada. Desde então, o HIMARS tornou-se uma ferramenta valiosa para os militares da Ucrânia, que dizem ter realizado dezenas de ataques a alvos russos, incluindo sistemas de defesa aérea e depósitos de munições.
Na quarta-feira passada (20.07), o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse que o Governo federal norte-americana entregaria mais quatro HIMARS, elevando o número total enviado para a Ucrânia para 16.
"Os HIMARS já fizeram uma enorme diferença no campo de batalha", escreveu no Twitter o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, em 9 de julho.
O que são os HIMARS?
O HIMARS é um lançador de mísseis múltiplo montado num camião fabricado pela Lockheed Martin. Este equipamento começou a ser produzido na década de 1990 e foi usado pela primeira vez pelos militares dos EUA em meados dos anos 2000.
Este lançador pode ser montado com seis mísseis de médio alcance GMLRS guiados por GPS, que são foguetes com alcance de 92 quilómetros, ou um míssil guiado de longo alcance terra-superfície ATACMS, com alcance de 300 quilómetros. No entanto, os EUA não forneceram ATACMS à Ucrânia, temendo que fossem usados para atacar solo russo, o que seria visto pelo Kremlin como uma escalada do envolvimento americano no conflito.
O HIMARS é tripulado por três pessoas e leva cinco minutos para recarregar. Como é um sistema móvel, pode deslocar-se rapidamente após um ataque para proteger a tripulação de qualquer resposta do inimigo. Custa cerca de 5 milhões de dólares (cerca de 4,8 milhões de euros) por unidade.
Os EUA, Roménia, Singapura, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e agora a Ucrânia são os únicos países que possuem HIMARS. As vendas foram aprovadas para a Polónia e Taiwan, e na semana passada a Estónia confirmou que compraria até seis sistemas aos EUA.
O HIMARS foi implantado anteriormente no Afeganistão, onde os EUA os usaram contra os Talibã na província de Kandahar e contra as forças do autoproclamado Estado Islâmico no Iraque, durante a batalha de Mosul.
HIMARS é calcanhar de Aquiles da Rússia?
Nos primeiros dias da invasão da Ucrânia, armas antitanque fornecidas pelo estrangeiro, como o NLAW e o Javelin, mostraram-se cruciais na defesa do avanço das colunas blindadas russas em direção a cidades como Kiev e Kharkiv.
Nos últimos meses, a Rússia tem-se movido lentamente no leste da Ucrânia, capturando cidades que ainda estavam sob controlo ucraniano em Lugansk e no Donbass.
A Ucrânia está em desvantagem quando se trata de artilharia convencional, consegue alcançar um máximo de cerca de 40 quilómetros. Mas os HIMARS provaram ser cruciais para aumentar a força militar da Ucrânia – eficazes em atacar os principais centros de comando, comunicações e logística, em pontos bem atrás das primeiras linhas de batalha do inimigo, permanecendo em segurança e fora do alcance dos bombardeamentos russos.
O impacto destes equipamentos foi claramente sentido pela Rússia, que não parece ter uma forma ágil e eficaz para defender as suas tropas desse tipo de mísseis de precisão. O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, já deu ordens para "priorizar o combate contra os mísseis de longo alcance e armas de artilharia de alta precisão do inimigo", segundo um canal estatal na rede social Telegram.
A Ucrânia usou o HIMARS para interromper o fornecimento de artilharia da Rússia à sua frente de batalha, na qual as forças russas usam cerca de 20.000 projéteis por dia, de acordo com um relatório do Instituto Real de Serviços Unidos, um centro de pesquisa britânico.
No início de julho, vídeos publicados nas redes sociais mostraram o que pareciam ser depósitos de munições em chamas, incluindo um centro de camiões em Donetsk pertencente à fabricante russa de veículos Kamaz; as estruturas provavelmente foram atingidas por HIMARS.
De acordo com Serhiy Bratchuk, um oficial da região de Odessa, um ataque com um míssil HIMARS, no início deste mês, perto de Kherson matou o major-general russo Artyom Nasbulin, chefe de gabinete do 22º Corpo do Exército.
O sistema de mísseis de defesa aérea russo S-400 aparentemente não conseguiu intercetar estes mísseis, e ainda não está claro se a inteligência russa conseguiu localizá-los e atacá-los com sucesso. O Ministério da Defesa russo disse, na sexta-feira (22.07), que destruiu quatro HIMARS. Mas o general Mark Milley, presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, garantiu em conferência de imprensa que nenhum dos sistemas oferecidos à Ucrânia tinha sido destruído até agora. Segundo esta alta patente norte-americana, cerca de 200 soldados ucranianos foram treinados para usar o HIMARS.
No entanto, a Rússia pode ainda encontrar maneiras de se adaptar ou reduzir a eficácia do HIMARS. Por outro lado, os sistemas podem tornar-se difíceis de manter e de reparar com o passar do tempo, para além do stock de mísseis poder esgotar-se em pouco tempo.