Oposição reitera acusação de fraude e Kumba Ialá recusa segunda volta
23 de março de 2012
Cinco candidatos - Kumba Ialá, Serifo Nhamadjo, Henrique Rosa, Afonso Té e Serifo Baldé - consideram que as eleições presidenciais da Guiné-Bissau foram fraudulentas e afirmam que não vão reconhecer qualquer resultado. A declaração foi feita pelo candidato da oposição Kumba Ialá, que falou em conferência de imprensa conjunta com os outro quatro candidatos na quinta-feira (22.03).
Na véspera, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) divulgou os resultados provisórios da primeira volta das presidenciais, colocando o agora ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior na liderança, com 49% dos votos válidos, e em segundo lugar Kumba Ialá, que teria alcançado os 23%.
Ambos estariam, assim, qualificados para concorrer à segunda volta. Mas Kumba Ialá garante que não vai participar. "Não há segunda volta, não há terceira volta, porque não reconhecemos o resultado. Reafirmamos não reconhecer e não reconheceremos qualquer resultado fraudulento saído das urnas, nas eleições do dia 18 deste mês", declarou.
Nesta sexta-feira (23.03), segundo a agência noticiosa Lusa, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, PAIGC, no poder na Guiné-Bissau, afirmou que está preparado para disputar a segunda volta com qualquer candidato. O PAIGC apoiou Carlos Gomes Júnior durante as presidenciais do passado domingo (18.03).
Não faltam provas de fraude
Kumba Ialá disse haver montanhas de provas de fraude e que os detalhes serão levados a partir desta sexta-feira a tribunal.
"Há provas. Mesmo que haja só um círculo, é já uma fraude que justifica que as eleições não podem ser legais e legítimas", afirmou. "Por exemplo, este cartão (eleitoral), se pertence a uma pessoa e for duplicado, vai ser entregue a outra pessoa, que vai votar com o mesmo nome e o mesmo número. E assim, ao nível nacional", acusa o candidato.
Questionado sobre se a posição dos cinco candidatos não poderá pôr em causa a paz e a estabilidade no país - um tema forte na campanha de todos os candidatos -, Kumba Ialá respondeu que "quem poderá por em causa a estabilidade que defendemos durante a campanha é o senhor Carlos Gomes Júnior. Ele renunciou ao cargo de primeiro-ministro para se apresentar como cargo presidencial. Portanto, ficamos sem governo. E ele prórpio, enquanto primeiro-ministro, nomeou por despacho uma primeira-ministra. Só aqui na Guiné-Bissau."
Observadores internacionais não conhecem o terreno
As eleições do último domingo (18.03) foram consideradas livres, justas e transparentes pelos observadores internacionais. Para Kumba Ialá, os observadores não cobriram todo o país.
"Os observadores internacionais têm o seu papel a desempenhar. Mas devem ir também ao fundo. Os observadores internacionais aqui, não conhecem, por exemplo, Madina de Boé. Não conhecem Morés. Não conhecem Tchurbrik. Mas lá estão as populações. Lá está concentrado o povo da Guiné-Bissau", explica.
Nhamadjo, faltou prudência da CNE
Serifo Nhamadjo, terceiro candidato mais votado nas presidenciais da Guiné-Bissau, lembrou que os cinco candidatos tinham proposto a não publicação dos resultados e pedido prudência por temer que a precipitação pudesse causar problemas. O político responsabilizou a CNE pelas consequenciais futuras.
"A precipitação de resultados elevará o país a um caos. Para impedir isso, chamamos a atenção: que houvesse uma prudência, porque os resultados que não foram validados nas CREs (Comissões Regionais de Eleições) e que mesmo a CNE não teve oportunidade de convocar uma plenária para validar os resultados. Precipitar em anunciá-los é provocar", declarou Nhamadjo.
Também na quinta-feira, esses mesmos candidatos às eleições presidenciais de domingo passado (18.03) - Kumba Ialá, Serifo Nhamadjo, Henrique Rosa, Afonso Té e Serifo Baldé - retiraram os mandatários que tinham junto à Comissão Nacional de Eleições, em virtude das fraudes constatadas durante a votação, de acordo com um documento assinado pelos cinco políticos.
Autor: Braima Darame (Bissau) / Lusa
Edição: Cris Vieira / Renate Krieger