Líbia: ONU denuncia violações ao embargo de armas
26 de janeiro de 2020A missão da Organização das Nações Unidas (ONU) na Líbia denunciou na noite de sábado (25.01) violações ao embargo de armas do Conselho de Segurança da ONU ao país, apesar dos compromissos assumidos há uma semana durante uma cimeira internacional em Berlim.
Num comunicado, a missão da ONU na Líbia disse que "lamenta profundamente as contínuas violações flagrantes ao embargo de armas" naquele país.
Os líderes mundiais comprometeram-se no fim de semana passado a acabar com toda a interferência estrangeira na Líbia e a defender o embargo de armas de 2011 como parte de um plano mais amplo para acabar com o conflito no país.
Também concordaram com um cessar-fogo permanente e medidas para desmantelar numerosas milícias e grupos armados, bem como um processo político sob os auspícios da ONU.
"Trégua ameaçada"
A missão da ONU disse que a trégua acordada a 12 de janeiro entre o Governo do Acordo Nacional (GNA), apoiado pela comunidade internacional, e as forças lideradas pelo general Khalifa Haftar devolveram a paz necessária para civis na capital, Tripoli.
"No entanto, essa frágil trégua está agora ameaçada pela transferência contínua de combatentes estrangeiros, armas, munições e sistemas avançados para ambas as partes líbias pelos Estados membros, incluindo vários que participaram da conferência de Berlim", afirmou o documento.
A cimeira internacional em Berlim reuniu no dia 19 de janeiro altos quadros dos Emirados Árabes Unidos, Egito, Turquia e de países ocidentais, como Estados Unidos, França, Reino Unido e União Europeia. A Alemanha também convidou o geenral Haftar e o primeiro-ministro de Tripoli, Fayez al-Serraj, que se encontraram separadamente com a chanceler Angela Merkel.
A ONU afirmou que vários aviões pousaram nos aeroportos da Líbia nos últimos 10 dias, fornecendo aos dois lados "armas avançadas, veículos blindados, conselheiros e combatentes".
"A missão condena essas violações em andamento, que correm o risco de mergulhar o país numa rodada renovada e intensificada de combates", afirmou a missão da ONU.
Conflito
O general Haftar, que controla o leste e grandes áreas do sul da Líbia, iniciou uma ofensiva em abril do ano passado para capturar Tripoli do GNA, reconhecido pela ONU.
A Turquia apoiou o GNA, com sede em Tripoli, enquanto Haftar, que apoia uma administração rival no leste do país, teve apoio da Rússia, Emirados Árabes Unidos e Egito.
No sábado (25.01), confrontos em Tripoli mataram pelo menos um civil – de nacionalidade marroquina - e feriram sete, disse o porta-voz do Ministério da Saúde da GNA, Amin al-Hashemi, à AFP no domingo (26.01).
Os especialistas da ONU publicaram em dezembro um relatório de quase 400 páginas acusando uma série de empresas e poderes externos de violar o embargo de 2011 ao entregar armas ou combatentes ao país do norte africano. E concluíram que "o embargo de armas foi ineficaz e resultou em transferências marítimas e aéreas regulares de material militar para a Líbia".
A Líbia está envolvida no caos desde uma revolta apoiada pela NATO em 2011 que matou o ditador de longa data Muammar Kadhafi.