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O que é que o Ocidente investe em África?

Eddy Micah Jr. | Isaac Kaledzi | Cai Nebe
9 de julho de 2024

Apesar da sua influência cada vez menor, o Ocidente continua a investir em África. Rússia e China estão a recuperar o atraso. Será África finalmente capaz de ditar as suas condições para atrair investimento estrangeiro?

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O chanceler alemão, Olaf Scholz (ao centro), ao lado dos chefes de Estado e de Governo de vários países africanos, bem como dos chefes da UE, para uma fotografia de família na conferência "Compact with Africa" - Cimeira de Investimento do G20, em Berlim, em 20 de novembro de 2023
O chanceler alemão, Olaf Scholz (ao centro), ao lado dos chefes de Estado e de Governo de vários países africanos, bem como dos chefes da UE, para uma fotografia de família na Cimeira de Investimento do G20, em Berlim, em 20 de novembro de 2023Foto: Kay Nietfeld/picture alliance

A abundância de recursos naturais, uma população jovem com vontade de trabalhar e as reformas económicas transfronteiriças posicionaram a África como um ator global no comércio e nas trocas comerciais no século XXI.

Na última década, a influência dos países ocidentais no continente chegou a ser posta em causa pela China e pela Rússia. Ainda assim, dólares e euros continuam a fluir para setores como a agricultura, a energia e os minerais de terras raras, que registam um grande crescimento.

"O interesse por África atingiu o seu auge nos últimos dez anos. E o que é particularmente interessante neste novo pico é que vemos novos atores a entrar", disse à DW o economista político Menzi Ndlovu, sublinhando que a influência ocidental em África não está apenas a ser desafiada por Pequim e Moscovo.

"Vemos países como a Índia a esforçarem-se, vemos países como a Arábia Saudita a esforçarem-se e vemos países como a China, que é indiscutivelmente o maior ator externo em África", explicou o analista a partir da Cidade do Cabo.

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Apetite crescente por oportunidades

Mas apesar desta competição pelo controlo das oportunidades de investimento estrangeiro no continente, tanto o Ocidente como os países emergentes estão também a ter de redefinir as suas relações com os países africanos no, impedindo-os de se envolverem numa guerra comercial total.

"Há mais interesse [em África], se olharmos para o governo dos EUA. Este governo em particular tem feito esforços na criação de diferentes departamentos que quase dizem que estão a dar um passo extra para promover parcerias em vez de darem ajuda a África", diz Adjoa Adjei-Twum, fundador e diretor-geral do grupo EBII, uma empresa de consultoria especializada em conformidade e gestão de riscos.

Embora os investimentos diretos estrangeiros em África tenham sofrido flutuações ao longo da última década, a tendência geral aponta para um interesse e um potencial crescentes por parte dos vários intervenientes, que parecem todos ansiosos por África.

De acordo com os números da ONU, o investimento direto estrangeiro em África atingiu um recorde de 83 mil milhões de dólares (77 mil milhões de euros) em 2021 - mais do dobro do registado em 2020.

Trabalhadores do Níger e da China durante a construção de um oleoduto na região de Gaya, Níger
Trabalhadores do Níger e da China durante a construção de um oleoduto na região de Gaya, NígerFoto: Boureima Hama/AFP/Getty Images

Mais investimento em energia

Do petróleo às infra-estruturas e à agricultura, tem havido um interesse crescente em África, especialmente à luz dos grandes acontecimentos mundiais.

Desde a invasão russa da Ucrânia, os países ocidentais estão também a cobiçar o setor energético africano, numa tentativa de se libertarem da sua dependência da energia russa.

"Basicamente, tem que ver com as necessidades energéticas do mundo - a capacidade de tentar obter energia verde. E, neste momento, existe um projeto de hidrogénio verde [na Namíbia], que é parcialmente financiado pela União Europeia (UE), mas apoiado pela Alemanha", explica o jornalista Cai Nebe, sublinhando que este projeto é o maior do género em África.

No entanto, acrescentou que também se regista uma mudança no investimento ocidental para as oportunidades de petróleo e gás no continente, que deverão aumentar.

Quando se trata de satisfazer as necessidades energéticas, as políticas ecológicas defendidas pelo Ocidente parecem não se estender muito no continente.

Um trabalhador local transporta fibra de sisal numa exploração agrícola na região de Morogoro, na Tanzânia, criada pela China-Africa Agriculture Investment Company, em 2000
Um trabalhador local transporta fibra de sisal numa exploração agrícola na região de Morogoro, na Tanzânia, criada pela China-Africa Agriculture Investment CompanyFoto: Li Sibo/Photoshot/picture alliance

Um toque de colonialismo

No seu mais recente relatório sobre os investimentos ocidentais e chineses em África, o Centro Internacional de Empresas Privadas afirma que "alguns investimentos ocidentais em África têm sido associados à exploração de recursos naturais sem as devidas salvaguardas ambientais".

Além disso, o documento também descreve como "os investimentos ocidentais têm por vezes perpetuado a dependência económica de entidades estrangeiras".

Esta não é uma situação vantajosa para todos os envolvidos, uma vez que as transações entre África e outros governos continuam a ser marcadas por acusações recorrentes de exploração a vários níveis.

Adjei-Twum acredita que esta narrativa tem de mudar e quer que sejam sobretudo os políticos a assumir a responsabilidade por essa mudança: "É da responsabilidade de todos. Os líderes destas nações têm a responsabilidade de garantir que todos os investimentos que entram no país chegam às pessoas comuns".

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Proteger África contra o resto do mundo

Com ou sem uma quota-parte mais equitativa para África, não há simplesmente qualquer abrandamento do impulso para investir em África, de acordo com Adjei-Twum. "Eles [os países africanos] têm as matérias-primas. Os minerais são atrativos", disse à DW, acrescentando que a natureza arriscada do investimento em África leva muitas vezes a que os actores ocidentais tenham vantagem na mesa de negociações.

"Quase todos os países africanos são de alto risco. Isso significa que qualquer empresa que esteja a ter bons resultados (em África) também é afetada porque é vista como sendo de alto risco", acrescentA Adjei-Twum, destacando desafios como a estabilidade política e o desenvolvimento de infra-estruturas, que continuam a ser cruciais para desbloquear todo o potencial de investimento do continente africano.

"Alto risco significa altos retornos, por isso, quando um investidor empresta dinheiro a uma organização em África, mesmo aos bancos, emprestam-no a uma taxa de juro que nem sequer conseguem suportar", lembra o especialista.

O analista Menzi Ndlovu concorda, sublinhando que o Ocidente protege os seus riscos em África diversificando os seus investimentos noutras partes do mundo. "Estamos a ver investimentos ocidentais a irem para lugares como a Ásia, o Médio Oriente, e muito do investimento fica no próprio Ocidente", explica.

Adjei-Twum acredita que os governos em África têm de mudar a sua abordagem quando lidam com o Ocidente, se quiserem estar em pé de igualdade: "Os governos têm de ter as políticas certas", disse à DW, alertando contra políticas que fazem África parecer "desesperada por ajuda". Neste momento, recorda, os países africanos "imploram aos investidores que venham para cá."