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O protesto que não aconteceu

7 de março de 2011

A manifestação contra José Eduardo dos Santos e o seu regime prevista para esta segunda-feira em Luanda foi aniquilada logo no início pela polícia. E um grupo de jornalistas foi detido no local previsto da concentração.

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O presidente de Angola está no poder há 32 anos e nunca foi eleito. A população pede democraciaFoto: picture-alliance/ dpa

A capital angolana está nesta segunda-feira (7/3) mais policiada do que nunca, devido a uma planeada manifestação contra o presidente José Eduardo dos Santos. Mas a concentração de facto, convocada pela internet, não teve lugar - e foi abortada à nascença. Segundo a convocatória dos organizadores, a manifestação deveria acontecer a partir da meia-noite em todo o país. Uma hora depois, a polícia iniciou intervenção: prendeu 20 manifestantes e quatro jornalistas.

Os jornalistas foram libertados depois de cerca de dez horas em custódia dos policiais. Mas os manifestantes continuavam na cadeia.

Há relatos da detenção de mais alguns indivíduos por volta da 01:00h manhã, entre eles um conhecido músico, Brigadeiro Mata Frakus, que nas últimas semanas num show lançou palavras contra José Eduardo dos Santos. Segundo um dos seus parentes, ele terá sido transportado esta madrugada para uma zona incerta.

Os indivíduos detidos estavam no Largo Primeiro de Maio, centro de Luanda, onde devia ocorrer uma vigília convocada por partidos da oposição, mas que foi proibida pelo governo provincial. A intenção era falar da paz e reconciliação nacional e apelar à democracia. Manuel Fernandes, o coordenador da vigília cancelada, disse: "Nós não temos como realizar esta vigília".

Sem manifestações, Luanda silencia

Na ronda efetuada esta madrugada, não eram visíveis concentrações de pessoas ou exibição de dísticos ou cartazes iguais aos que foram massivamente disseminados pela internet nas últimas semanas. Luanda era esta segunda-feira uma cidade morta, sem movimento. Alguns mercados e grandes superfícies comerciais não abriram as portas.

Agentes da polícia nacional, de prevenção há uma semana, estão colocados em locais estratégicos de acesso e saída de Luanda.

Mesmo as 12 estações de rádio de Luanda não terão ficado de parte. Alguns jornalistas foram submetidos a interrogatórios e revista.

Anti Angola Proteste in London
Se em Luanda a manifestação contra o presidente angolano foi reprimida, em Londres ela teve lugarFoto: Huck

Lembrando a guerra

Mas as movimentações políticas do fim-de-semana passam ainda por uma gigantesca marcha convocada pelo MPLA, partido no poder. A organização diz ter mobilizado um milhão de pessoas, mas não há dados independentes que confirmam este facto. O MPLA critica a planeada manifestação anti-governamental desta segunda-feira. Roberto de Almeida, vice-presidente do partido governista, argumenta nos seguintes moldes: "E como muita gente não quer isto, querem interromper esta nossa caminhada, querem fazer com que paremos no nosso trabalho".

A UNITA, principal força da oposição, adiantou que tem outra marcha prevista para o próximo dia 13 de março.

Fontes ouvidas pela Deutsche Welle indicam que funcionários públicos e demais trabalhadores foram obrigados a participar da marcha de sábado do MPLA, em que foram lançadas palavras de ordem a favor do presidente José Eduardo dos Santos, há 32 anos no poder. Músicos e até algumas organizações não-governamentais foram chamadas ao ato.

Por outro lado, a população angolana vem sendo apanhada numa espiral de medo, com alguns pronunciamentos de dirigentes do MPLA a indiciarem um hipotético retorno à guerra ou a uma conspiração estrangeira por detrás da manifestação. Rui Falcão, do MPLA, associou a retenção de um navio comercial americano com 80 toneladas de armamento ao clima que se vive hoje, e diz que esse fato não pode ser ignorado. Falcão defende vigilância e deixa a suspeita no ar dizendo o seguinte: "Sabemos que internamente há outros movimentos, está claro e o relevante para o MPLA é que nos vamos manter na senda da paz e continuar a trabalhar como até aqui."

Este clima de medo e apreensão é sentido principalmente no interior, onde não há informação independente e a população é maioritariamente analfabeta.

Autor: Manuel Vieira
Revisão: Nádia Issufo/Renate Krieger