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O petróleo e a intervenção militar estrangeira na Líbia

11 de agosto de 2011

O dirigente líbio, Muammar Kadhafi, procurado por mandato de captura internacional, acusa as forças de intervenção ocidentais no seu país de pretenderem apoderar-se do petróleo.

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Zilten, na Líbia, é um dos alvos de ataques das forças da NATO, que apoiam o avanço dos rebeldesFoto: dapd

A revolta do povo líbio contra o regime de Muammar Kadhafi está a decorrer de forma diferente das revoluções noutros países do Magrebe, como a Tunísia ou o Egito. Na Líbia verificou-se uma intervenção militar de forças estrangeiras que cedo exigiram a retirada do coronel Kadhafi, que por sua vez, acusa o Ocidente de querer apenas apoderar-se do petróleo líbio.

Quando estalaram os protestos contra o regime líbio, o Ocidente tomou rapidamente partido e levantou a voz contra o regime de Kadhafi. A França foi o país que mostrou maior determinação e tomou todas as medidas à sua disposição para derrubar o regime vigente. Que motivos estão por detrás deste procedimento da França, que não se verificou, por exemplo, no caso da Tunísia?

Sarkoyz zangado com Kadhafi

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O Presidente francês, Nicolas Sarkozy, à direita, com o líder líbio, Muammar Kadhafi, na Cimeira UE-África em Lisboa, em Dezembro de 2007Foto: AP

O politólogo alemão, Alfred Hackensberger, especialista em questões do Magrebe, lembra que o Presidente francês, Nicolas Sarkozy, “andava ultimamente bastante zangado com Kadhafi”. Isto porque pouco antes recebera o líder líbio em Paris com “grande pompa, ocasião em que fecharam negócios importantes e assinaram contratos milionários”. Mas Kadhafi, diz Hackensberger, não respeitou todos os contratos assinados: “O prometido negócio da compra de aviões militares franceses, por exemplo, não se realizou. Em vez disso, Kadhafi encomendou aviões russos", explica o politólogo.

Interesses económicos terão, pois, levado à abstenção da Rússia na votação no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre uma intervenção militar contra as forças de Kadhafi, que bombardeavam civis líbios. Os russos tinham assinado contratos de venda de material bélico ao regime de Kadhafi, no valor de mais de dois mil milhões de dólares. Luis Martinez, Diretor do Centro de Pesquisas Internacionais (CERI), em Paris, disseca a posição de Moscovo: “A Rússia receia perder os melhores clientes de material de guerra. Moscovo também tem medo que os seus mega projetos na área do gás natural e do petróleo possam ser postos em causa”. Na ótica da Rússia, prossegue o analista, a Líbia é uma espécie de mini-Iraque, “um país que comprava muitas armas russas e perseguia os mesmos interesses estratégicos".

A posição da Itália fica por explicar

Outro interveniente importante é a Itália, a antiga potência colonizadora da Líbia. Os italianos também assinaram muitos contratos importantes com o regime de Kadhafi. A petrolífera italiana Eni é o maior parceiro estrangeiro da petrolífera estatal líbia, e é responsável por um quarto da totalidade das extrações líbias que rondam cerca de um milhão e seiscentos mil barris por dia. Nestas circunstâncias, o pesquisador Martinez não consegue explicar porque é que a Itália apoiou desde o início a intervenção das forças da Nato na Líbia: „A posição italiana é um assunto que vai dar muito que falar e pensar aos analistas e observadores. Na Itália deu-se uma reviravolta: ainda em 2008 festejou-se com grande pompa a assinatura de um acordo de amizade com o regime de Kadhafi e de repente tudo mudou, tendo a Itália colocado as suas bases militares à disposição da Nato.“

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A petrolífera italiana, Eni, é o maior parceiro comercial da Líbia, à qual compra um terço da produção de petróleoFoto: AP

Os observadores partem do princípio de que, mais tarde ou mais cedo, o Conselho de Transição líbio assumirá o controlo sobre os recursos petrolíferos do país. As potências internacionais já se estão a preparar para esse caso, apressando-se a estabelecer contactos diplomáticos com os rebeldes. A Alemanha, que se absteve na votação no Conselho de Segurança sobre uma intervenção militar contra a Líbia de Kadhafi, não é exceção.

Autores: Lina Hoffmann/António Cascais

Edição: Cristina Krippahl/António Rocha