O negócio lucrativo das igrejas pentecostais da Nigéria
20 de setembro de 2018"O cerco do desemprego acabou na vossa vida, o cerco da estagnação dos negócios, da frustração na vossa vida, chegou finalmente ao fim".
O "evangelho da prosperidade", de David Oyedepo, é hipnotizante. E a multidão parece beber cada uma das suas palavras. São 50 mil pessoas – "lotação esgotada" na Igreja da Fé Viva, nos arredores de Lagos, a terceira maior igreja pentecostal do país.
Muitos não conseguiram um lugar nesta mega-igreja. Estão cá fora, a ouvir Oyedepo atentamente. Levantam as mãos para o céu, em sinal de devoção, esperando que as suas orações sejam ouvidas. Este é apenas um dos muitos pastores nigerianos que prometem mudanças positivas.
Património multimilionário
David Oyedepo, que se auto-intitula bispo, sabe o que é que faz mais falta à população da Nigéria: estabilidade e empregos. Já o património do pastor está avaliado em 128 milhões de euros. Muitos dos seus seguidores querem ser como ele. E isto "é perigoso", diz Francis Falako, professor de Estudos Religiosos na Universidade de Lagos. "Tudo gira em torno do pastor e a tendência é focarem-se no pastor e não em Deus. O estilo de vida do pastor e não de Cristo torna-se o objetivo", explica.
Os fiéis anseiam por prosperidade, no país com o maior número de pessoas a viver em pobreza extrema em todo mundo. A Nigéria, palco de instabilidade devido à violenta campanha dos extremistas islâmicos do Boko Haram há quase uma década, vive uma recessão económica.
O Governo promete mudanças, mas o país é assombrado pela má gestão e corrupção em massa. Neste cenário, o número de igrejas pentecostais aumenta. Há pelo menos 500 na Nigéria - algumas com filiais no estrangeiro. Os nigerianos voltam-se para a fé, quando a confiança no Governo diminui.
"Mega-eventos" religiosos
A Nigéria é um dos países mais religiosos do mundo: cerca de 50% do país é muçulmano. Estima-se que haja 80 milhões de cristãos e que, destes, cerca de metade seja membro de uma igreja pentecostal.
Não é fácil encontrar a entrada da Igreja da Fé Viva, situada num enorme campus com parques de estacionamento, uma universidade privada e uma escola. Equipas de "boas-vindas" recebem as dezenas de milhares de fiéis.
Mas os órgãos de comunicação são olhados com desconfiança. É o que acontece com a câmara da DW. Um segurança segue cada um dos nossos passos. Mesmo assim, conseguimos assistir a esta missa perfeitamente coreografada. Dentro da igreja, a multidão começa por ser reservada, mas depois a música ganha intensidade, chegando a todos os cantos do edifício e do campus, com megafones.
O negócio da fé
As pessoas já não conseguem estar sentadas, quando o pastor finalmente aparece. Oyedepo é aplaudido como uma celebridade. É neste momento de absoluta devoção e êxtase que enormes cestos amarelos são passados pela sala para recolher doações.
Lá fora, também se aceitam oferendas. E os cestos enchem-se rapidamente. As pessoas acreditam que quanto mais dinheiro derem, maior será o crescimento da sua própria riqueza.
Depois da missa, há muitas outras formas de gastar mais dinheiro. Que tal uma garrafa de azeite por 5 dólares? Num país com um salário mínimo de 50 dólares por mês, é uma pequena fortuna. A vendedora explica que este é um óleo muito especial, porque foi abençoado: "Quando acreditas e usas o óleo, ele cura doenças, cura qualquer coisa, pessoas foram curadas do HIV usando apenas este óleo".
Os críticos condenam estes negócios. As igrejas pentecostais prometem salvação económica, prometem soluções. E isso vem com um preço, diz o professor Francis Falako, sublinhando que a fé das pessoas está a ser explorada. "A maioria destes pastores não está lá para servir, está lá para enriquecer. Se questionas algumas das suas práticas, citam a Bíblia para sustentarem a sua visão e dizem que Jesus não era pobre", afirma o professor.
As igrejas estão isentas de impostos. E com o aumento da pobreza extrema, alguns políticos querem alterar isto, gerando muitas críticas daqueles que acreditam que a mudança positiva só é possível através da fé – e não do Governo.
A Igreja da Fé Viva já planeia a expansão e quer construir uma nova igreja na Nigéria com um altar giratório e 100 mil lugares sentados.