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O drama dos acompanhantes de doentes em Tete

Jovenaldo Ngovene (Tete)
24 de julho de 2023

Sem abrigo, sem higiene e sem conforto — a vida dos acompanhantes de doentes no maior hospital de Tete é um desafio diário. Situação é vivida em muitos pontos do país. Heróis à porta dos hospitais?

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Mosambik | Tete Krankenhaus
Foto: Jovenaldo Ngovene/DW

O Hospital Provincial de Tete é o maior posto sanitário da região e é onde cidadãos de todos os pontos da província procuram cuidados médicos especializados. Mas a vida dos acompanhantes dos doentes não tem sido fácil.

Herois à porta?

Por não terem onde pernoitar, estas pessoas instalam-se em frente à unidade sanitária. No local, dormem, cozinham e estão à mercê do sol, chuva, calor ou frio.

Saulo Avelino é uma dessas pessoas. Oriundo do distrito de Chiúta, lamenta as condições em que se encontra. 

"Não temos um local para dormir, dormimos aqui fora nas caixas", lamentou, acresentando ainda que quando chega a noite, é quando se sofre mais, porque não preparam "nada quando saímos de casa".

Mas este cidadão não está sozinho. Anita Nhauzane também dorme ao relento e partilha o seu grito de socorro.

"Quanto à situação de higiene, as pessoas podem ter higiene, mas como podem ver, que tipo de higiene teremos aqui?", questiona. Anita realçou ainda o "sofrimento" vivido à porta do hospital e descreve as mães dos doentes como as maiores vítimas.

"Vejam essas mães, comem fora, não cobrem nada essa toda noite, é um sofrimento", disse.

Mosambik | Tete Krankenhaus
Familiares de doentes "acampam" à porta do hospital de TeteFoto: Jovenaldo Ngovene/DW

Problema nacional

Mas este não é um problema local. A situação dos acompanhantes dos doentes do Hospital Provincial de Tete é semelhante à que se vive em outros pontos do país, embora algumas unidades já providenciem locais de espera dentro do espaço hospitalar.

No entanto, a falta de locais com condições mínimas de segurança configuram um risco para a saúde das comunidades pela falta de higiene e contacto com doenças. Kalida Silva, gestora provincial do Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC) em Tete, alerta que os hospitais servem para curar doentes, mas infelizmente, também são locais expostos à contração de doenças.

"Há risco de um familiar que está internado melhorar a sua condição de saúde, voltar para casa e o acompanhante que estava lá fora, ficar doente, porque contraiu alguma infecção e se calhar mais grave ainda", disse.

Julieta Xavie é a diretora clínica do Hospital Provincial de Tete. Questionada sobre a falta de um espaço condigno para os acompanhantes, reconhece os riscos da atual situação.

Mosambik | Tete Krankenhaus
Hospital provincial de TeteFoto: Jovenaldo Ngovene/DW

Modelar o acompanhamento do doente

"O grande problema que se verifica é que, geralmente, um doente vem com cinco a seis familiares e o hospital não tem capacidade de deixar dentro da unidade sanitária o paciente e acompanhantes", explicou.

Já a gestora provincial do CESC, Kalida Silva, acrescenta que é preciso um trabalho urgente com vista à mudança deste cenário.

"As famílias devem saber como se faz o acompanhamento do doente quando está internado e não estar a passar por aquele tipo de situação", lamentando o facto de muitos familiares "dormirem ao relento", enquanto aguardam o tratamento dos doentes que acompanham.

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