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O adeus dos moçambicanos ao "advogado do povo"

Conceição Matende
23 de outubro de 2024

O advogado Elvino Dias era "uma voz incómoda para um grupo restrito com poder de decidir quem deve viver em Moçambique", diz Borges Nhamirre à DW. Moçambicanos despedem-se de "advogado dos menos favorecidos".

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Elvino Dias homenageado em MoçambiqueFoto: Nádia Issufo/DW

Elvino Dias foi assassinado a tiro, sexta-feira, no centro de Maputo, juntamente com Paulo Guambe, mandatário do Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), partido que apoia Mondlane, e este convocou os moçambicanos para uma "participação em massa" no funeral.

Elvino Dias era o advogado do candidato à Presidência da República de Moçambique, Venâncio Mondlane. E alguém que conhecia o advogado bastante bem era o investigador Borges Nhamire. Em entrevista à DW, Nhamire recorda o Elvino Dias como figura que sempre abraçou a causa dos moçambicanos e que defendeu os menos favorecidos até ao último dia da sua vida.

DW África: Quem foi o Elvino Dias?

Borges Nhamirre (BN): Foi um cidadão que acreditava nas liberdades, e que poderia livremente exercer os seus direitos como cidadão, mas também como um profissional e advogado que era, respeitando as leis que existem em Moçambique.

Pesquisador moçambicano Borges Nhamire
Borges Nhamirre (à dir.) conhecia bem o advogado Elvino DiasFoto: R. da Silva/DW

DW África : Porque é que ele tinha uma voz tão incómoda?

BN:  Tinha uma voz audível porque falava coisas certas, então essa voz era mais audível para os cidadãos, podendo ser incómoda para um grupo restrito de cidadãos e não todos. Infelizmente esse grupo controla o poder e tem o poder de decidir quem deve ou não viver em Moçambique. Ou seja, era uma voz incómoda para determinadas pessoas que não se compadecem com o exercício das liberdades. Mas era uma voz audível para grande número de cidadãos, isso pode ser visto pelas pessoas que o seguiam, que liam o que ele escrevia e comentavam. São pessoas que neste momento lhe prestam a sua homenagem.

DW África: Porque é que o povo moçambicano o considera advogado dos moçambicanos?

BN: A advocacia é uma profissão; como tal, significa que a pessoa que a exerce deve sobreviver através dela. O Elvino abraçava causas para além das que lhe dessem dinheiro: abraçava causas de valor social, político e democrático relevantes. O seu pendor de abraçar causas é de grande valor social que não significasse necessariamente as causas mais bem remuneradas, mas sim as que tivessem o potencial de ajudar o maior número de pessoas e sobretudo as pessoas que mais necessitassem.

Protestos contra o assassinato de Elvino Dias
O assassinato do advogado gera onde de revolta em Moçambique Foto: Alfredo Zungia/AFP

O Elvino tinha o seu escritório de advogado próprio. Muito antes dele se envolver notavelmente em defender casos de interesse político, abriu o seu escritório de advogado em Maguanini, zona periférica da cidade de Maputo, onde normalmente os advogados não querem abrir escritórios. Certamente essa escolha não foi por incapacidade de arrendar um apartamento como os outros advogados fazem - abrem escritórios no coração da cidade. Fê-lo porque queria estar próximo das pessoas desfavorecidas e não da elite. Eu penso que é tudo isso que faz com que as pessoas o considerem "um advogado do povo"

DW África: Qual é o legado que o Elvino Dias deixa para o povo moçambicano?

BN: Deixa um legado de que aquele que não está disposto a morrer por uma causa, talvez não seja digno de viver.

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