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PolíticaNigéria

Nigerianos nas ruas contra o elevado custo de vida

Isaac Kaledzi | Sophie Serbini | rl | com agências
3 de agosto de 2024

Revolta cresce diariamente no país, onde milhares de pessoas protestam contra os preços dos bens essenciais. Manifestações têm sido reprimidas, havendo já registo de 13 mortes e mais de 400 detidos.

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Amnistia Internacional fala na morte de pelo menos 13 pessoas
Amnistia Internacional fala na morte de pelo menos 13 pessoas Foto: Adekunle Ajayi/IMAGO/NurPhoto

Na Nigéria, prosseguem os protestos contra o elevado custo de vida e a repressão intensifica-se. Durante as manifestações desta semana, a polícia nigeriana utilizou gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes na capital, Abuja, e na cidade de Kano, no norte do país.

Num comunicado, esta sexta-feira, a Amnistia Internacional denuncia que pelo menos 13 pessoas foram mortas durante os protestos em massa que se "tornaram violentos" em vários estados do país. Já as autoridades nigerianas falam da detenção de mais de 400 manifestantes até sexta-feira.

A Nigéria vive atualmente uma das mais graves crises económicas da sua história. A inflação, de quase 40%, está a afetar fortemente a grande maioria das famílias. Os produtos alimentares, a gasolina e até os medicamentos atingiram preços recorde.

"A fome levou-me a protestar"

Por isso, a revolta cresce diariamente no país, onde milhares de pessoas estão a protestar nas ruas contra as reformas levadas a cabo nos últimos anos pelo Governo e que estão a causar a fome" no país.

 "A fome levou-me a protestar", disse Asamau Peace Adams, um manifestante de 24 anos, no exterior do estádio nacional de Abuja. "Tudo isto se deve a uma má governação", acrescentou.

"Há dificuldades no país, as pessoas têm fome, já não têm dinheiro para comer. É por isso que estamos aqui”, acrescenta outro manifestante.

Produtos alimentares, a gasolina e até os medicamentos atingiram preços recorde na Nigéria
Produtos alimentares, a gasolina e até os medicamentos atingiram preços recorde na NigériaFoto: Sunday Alamba/AP/picture alliance

"Como enfermeira, nem sequer consigo sustentar bem a minha família, não porque não trabalhe muito, mas porque a nossa moeda não tem valor", explica outra nigeriana.

Reformas económicas causam dificuldades

Os manifestantes apontam o dedo às reformas económicas introduzidas pelo Presidente Bola Ahmed Tinubu, que chegou ao poder em maio de 2023. Já o Governo diz que se tratam de mudanças necessárias que darão frutos no futuro.

Para o economista Gbolohan Olojede, a "crise agravou-se no último ano devido a dois grandes problemas que fizeram disparar os preços": "a abolição dos subsídios aos combustíveis e a unificação da taxa de câmbio da naira em relação ao dólar".

Também o analista financeiro Aminu Philip Yado nota que a decisão de eliminar os subsídios aos combustíveis, que fez disparar o custo dos alimentos e transportes, está a ter um impacto generalizado nos nigerianos.

"Os transportes são um dos principais fatores que afetam o custo dos produtos no mercado", afirma Yado. "[Se os produtores] têm de colher e transportar os seus produtos a um custo muito elevado, não conseguem chegar ao mercado e cobrar pouco".

Presidente Bola Ahmed Tinubu
Manifestantes apontam o dedo às reformas económicas introduzidas pelo Presidente Bola Ahmed TinubuFoto: Nigerian Presidency/Anadolu/picture alliance

Os sindicatos convocaram várias greves a nível nacional por causa dos salários que são demasiado baixos para acompanhar a inflação.

Aumenta repressão

As manifestações estão a tomar um rumo dramático, com a repressão a tornar-se mais dura. Isso mesmo testemunhou Christine Mhundwa, a nossa correspondente em Lagos, numa manifestação na passada quinta-feira (01.08) em Lagos.

"Houve uma forte presença policial, com agentes fortemente armados de diferentes unidades policiais. Essa é parte da razão pela qual algumas pessoas ficaram em casa hoje, porque estavam preocupadas que a polícia usasse a violência para acabar com as manifestações, que foi o que aconteceu", explicou.

Segundo a polícia nigeriana, mais de 400 manifestantes foram detidos até sexta-feira e o recolher obrigatório foi imposto nos estados de Kano e Katsina, no norte do país, após a pilhagem de bens públicos. 

"Não vamos cruzar os braços e permitir que este país seja destruído", disse aos jornalistas, esta sexta-feira, em Abuja, Christopher Musa, chefe da defesa da Nigéria.

Segundo a polícia nigeriana, mais de 400 manifestantes foram detidos até sexta-feira
Segundo a polícia nigeriana, mais de 400 manifestantes foram detidos até sexta-feiraFoto: Adekunle Ajayi/IMAGO/NurPhoto

Também o chefe da polícia nacional, Kayode Egbetokun, disse na quinta-feira à noite que a sua organização está em alerta vermelho e poderá pedir a ajuda das forças armadas.

Apesar da repressão, os organizadores já anunciaram que vão continuar a sua luta. Intitulado #EndbadGovernanceinNigeria (Acabar com a má governação na Nigéria), o movimento de protesto atraiu um grande apoio nas redes sociais.

Os manifestantes inspiram-se, em particular, nas manifestações no Quénia, que em junho passado levaram o Presidente William Ruto a demitir o seu gabinete e a revogar uma reforma fiscal altamente impopular.

O último grande movimento de protesto na Nigéria ocorreu em outubro de 2020. Denominado #EndSARS, este movimento tinha o objetivo de pôr termo aos abusos de uma brigada da polícia anti-roubo, a SARS. 

 O movimento conseguiu que esta unidade policial fosse dissolvida, mas os protestos acabaram em derramamento de sangue, com pelo menos 10 manifestantes mortos, de acordo com a Amnistia Internacional. O Governo e o exército negaram qualquer responsabilidade.

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