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Nigéria e Quénia nas páginas dedicadas a África da imprensa alemã

27 de janeiro de 2012

Os ataques perpetrados pela seita radical islâmica Boko Haram, na Nigéria, e o julgamento de altas figuras da política queniana pelo Tribunal Penal Internacional foram temas de destaque durante a semana.

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Centenas de bombas foram descobertas em Kano, Nigéria, depois dos ataques de sexta-feira (20.01.)
Centenas de bombas foram descobertas em Kano, Nigéria, depois dos ataques de sexta-feira (20.01.)Foto: picture-alliance/dpa

Na segunda-feira (23.01.), o Neue Zürcher Zeitung falava de uma "orgia de violência". Segundo as contas do jornal suíço, mais de 170 pessoas tinham sido mortas numa série de ataques coordenados no norte da Nigéria depois das orações de sexta-feira (20.01.). Centenas de bombas foram descobertas na cidade de Kano, alguns dos atacantes seriam bombistas suicidas.

"Mais uma vez, o grupo terrorista Boko Haram voltou a atacar", assim começava o diário, "só que, agora, com uma força fora do normal". Entre as vítimas registadas na cidade de Kano, a segunda maior do país, estão, entre outros, polícias, funcionários dos serviços de imigração locais e um jornalista.

Mas não só em Kano o fim-de-semana foi sangrento: também no estado de Bauchi, igualmente no norte da Nigéria, lembra o Süddeutsche Zeitung, duas igrejas cristãs e um posto de controlo das forças de segurança foram atacados no domingo. Na segunda-feira, a polícia local contava mais onze mortos. Ou seja, citando o Frankfurter Allgemeine Zeitung, "se faltavam provas de que a seita radical islâmica Boko Haram representa sério perigo para a ordem pública na Nigéria, essas provas foram dadas".

Um "exército" terrorista

Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan (esq.) com o emir de Kano (dir.) depois dos ataques à cidade
Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan (esq.) com o emir de Kano (dir.) depois dos ataques à cidadeFoto: picture-alliance/dpa

Envolvidos não estiveram apenas alguns terroristas, mas um "pequeno exército", como o Frankfurter Allgemeine Zeitung designou os atacantes. Desde dezembro passado, conta o diário de Frankfurt, "a seita faz explodir o que lhe convém, ataca símbolos do estado, mata cristãos e faz ultimatos aos sobreviventes. E as autoridades não conseguem pôr termo a estes atos. Pior ainda", continua o jornal, "o estado parece impotente". Segundo o mesmo artigo, os serviços estatais não sabem nada sobre o grupo: "nem quem o lidera nem quantos apoiantes tem ou de onde consegue o financiamento".

A uma destas questões, contudo, o Süddeutsche Zeitung já deu resposta: "Abubakar Shekau é terrorista de topo em África, é ele que lidera a seita Boko Haram", assim se lia esta quarta-feira num artigo de Arne Perras. O estado nigeriano "já o tinha como morto. Mas depois, surpreendentemente, ele voltou a aparecer", continuava Perras no Süddeutsche Zeitung. "Quando o líder religioso Shekau ameaça atacar com violência, leva a cabo a sua promessa."

Aliás, como escreveu o Neue Zürcher Zeitung, o porta-voz do grupo, Abul Qaqa, ter-se-á referido aos ataques como "uma resposta à recusa das autoridades em libertar vários dos seus membros atualmente na prisão apesar do ultimato feito pelo grupo". O objetivo dos ataques terá sido precisamente a libertação desses membros. Segundo a edição online do jornal "The Nation", também citada pelo Neue Zürcher Zeitung, de facto, "mais de 50 pessoas detidas conseguiram fugir durante os ataques".

Uhuru Kenyatta (na imagem) é um dos políticos quenianos que terão de responder por crimes contra a humanidade perante o TPI
Uhuru Kenyatta (na imagem) é um dos políticos quenianos que terão de responder por crimes contra a humanidade perante o TPIFoto: AP

De acordo com o Süddeutsche Zeitung, "há quem acredite que a Nigéria se desmorone se o extremista Shekau e os seus apoiantes continuarem a espalhar bombas" como aconteceu no fim de semana no norte do país.

Uma bomba para a política queniana


Como uma bomba cai agora também o julgamento de figuras de topo da política do Quénia pelo Tribunal Penal Internacional. "Logo agora", escreve o Tageszeitung: no país, as eleições presidenciais aproximam-se – e dois dos réus de Haia já se tinham apresentado como candidatos: os atuais Vice-Primeiro-Ministro, que acumula a pasta das Finanças, Uhuru Kenyatta, e o Ministro da Educação, William Ruto.

Os crimes de que são suspeitos terão ocorrido durante os confrontos que se seguiram às eleições presidenciais e legislativas de 2007 no Quénia. Na altura, Kenyatta tinha apoiado a reeleição do presidente Mwai Kibaki, Ruto o opositor Raila Odinga. Quando o presidente cessante Kibaki se auto-declarou vencedor do escrutínio e permaneceu no poder, os dois partidos rivais reagiram com violência recíproca. Como lembra o Tageszeitung, morreram nos confrontos mais de 1.300 pessoas, centenas de milhares ficaram desalojadas "até que o ex-Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, negociou um governo de unidade nacional que incluiria membros dos dois partidos": Kibaki continuou presidente, Odinga assumiu o cargo de Primeiro Ministro.

Crimes - contra a humanidade?

Agora, Kenyatta e Ruto são dois dos quatro políticos que terão de responder por crimes em Haia, crimes contra a humanidade. Mesmo que, segundo o juíz alemão Hans-Peter Kaul, citado pelo Tageszeitung, "[este julgamento] não é da competência do tribunal, uma vez que [os crimes de que os réus são acusados] não se trata de crimes contra a humanidade". Mas, continua o jornal de Berlim, "Kaul não conseguiu impor a sua opinião" e, portanto, a decisão do tribunal teve dois votos a favor e um contra.

Segundo o Tageszeitung, o TPI foi acionado, porque "a pressão exercida sobre a justiça do Quénia estava a tornar-se demasiado forte dentro do país". "Em casos anteriores de violência política", pôde ler-se esta semana no Süddeutsche Zeitung, "os responsáveis nunca foram chamados a prestar contas", daí que a maioria dos quenianos "tenha aceitado, até então, o trabalho do tribunal penal".

Mas "uma coisa é certa", concluiu o Süddeutsche Zeitung no mesmo artigo: "as acusações terão grande influência sobre o futuro político do Quénia". Aliás, já há dias que no país se debate publicamente "se será oportuno que políticos acusados de crimes contra a humanidade possam candidatar-se ao cargo de presidente", informa, por sua vez, o Neue Zürcher Zeitung.

Autora: Marta Barroso
Edição: Helena Ferro de Gouveia