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Negociações de paz para a República Centro-Africana começam mal

Silva-Rocha, Antonio8 de janeiro de 2013

Governo e oposição da República Centro-Africana (na foto, o presidente Bozizé) juntaram-se esta terça-feira (08) no Gabão a representantes da rebelião Séléka para negociar a paz sob a égide dos países da África central.

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Essas conversações entre o poder de Bangui, muito fragilizado, e uma rebelião iniciada a 10.12 e que controla a maior parte do país, foram antecedidas na tarde desta terça-feira (08.01) de uma reunião do conselho dos ministros da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEAC).

Num breve comunicado, a CEAC evocou a "complexidade da tarefa" que lhe foi confiada, sem precisar, contudo, o calendário das futuras negociações que visam tirar a República Centro-Africana, Estado membro da sub-região, da profunda crise político-militar em que se encontra.

População esperançosa

A população centro-africana, por seu lado, espera muito dessas conversações. Falando à DW África, um cidadão disse: "Estou inteiramente de acordo que a realização de conversações, porque só com o diálogo será possível o desenvolvimento desse país. Não servirá de nada construirmos o país através das armas, porque a solução não será duradoura."

Outro ainda segue no mesmo diapasão: "Desejo o início de um diálogo sério porque é a única forma do país entrar realmente na via do desenvolvimento."

Mas há quem se mostre cauteloso, apesar da iniciativa ser bem vista: "É uma solução, mas deve ser coerente e sem contradições. Que o diálogo sirva na verdade para um entendimento entre as partes em litígio por forma a construirmos juntos esse país."

Uma delegação da rebelião, dirigida pelo chefe da coligação Séléka, Michel Djotodia, está em Libreville, capital do Gabão, desde segunda-feira (07.01), enquanto as delegações do governo e da oposição chegaram à capital gabonesa na manhã desta terça-feira (08.01).

No mesmo avião, também viajaram o arcebispo de Bangui e membros da sociedade civil que querem estar como observadores durante as discussões.

O chefe da delegação do poder, Jean Willybero-Sakio, disse que está "sereno" porque as propostas já feitas pelo presidente François Bozizé, nomeadamente a formação de um governo de unidade nacional e que não será candidato na próxima eleição presidencial, desbloqueram muitas coisas.

Bozizé dá o dito pelo não dito

Mas acontece que ao fim da tarde desta terça-feira (08.01), numa conferência de imprensa em Bangui, o presidente Bozizé anunciou que não está disposto a negociar a sua saída do poder.

Uma posição que poderá complicar o processo negocial, tendo em vista as recentes declarações feitas pelo Coronel Djouma Narkoyo, porta-voz militar da rebelião: "Se Bozizé reconhece que a sua presença em Bangui pode provocar graves prejuízos ao país, então ele tem uma única solução: abandonar o poder e deixar em paz a população centro-africana."

François Bozizé deverá deslocar-se durante esta semana a Libreville, e isso se as delegações chegarem a um acordo quanto à saída da crise, que para muitos observadores parece muito difícil, pelo menos por enquanto.

Na segunda-feira (07.01), Bozizé esteve no Congo Brazaville, para preparar com o Presidente Denis Sassou Nguesso, essas conversações. Nguesso que é o mediador designado pelos seus pares da África Central, lançou um apelo para que todas "as partes desenvolvam esforços com vista à consolidação da paz na República Centro-Africana."

Os rebeldes exigem nomeadamente o respeito pelos acordos de paz assinados entre 2007 e 2011 com o poder e pedem como condição para um diálogo aberto e franco a saída do poder do Presidente Bozizé.

Este poderá contar com o envio de 400 soldados sul-africanos para a República Centro-Africana, depois da presidência da África do Sul ter evocado "uma obrigação internacional do país para com o Estado centro-africano".

Autor: António Rocha / AFP
Edição: Nádia Issufo / Renate Krieger