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DesportoMoçambique

Mulheres a cobrir desporto: Entre safanões e mimos

27 de junho de 2024

Mulheres jornalistas que se dedicam a cobrir o desporto enfrentam, com frequência, algum preconceito. À DW, Rosa Inguane, repórter e comentadora desportiva moçambicana, revela como reage a comentários "ignorantes".

https://p.dw.com/p/4hZZt
Rosa Inguane
Foto: Privat

É daqueles que desqualifica o trabalho de mulheres que reportam e comentam desporto?

Depois de ouvir o que a repórter desportiva e comentadora moçambicana Rosa Inguane tem a dizer sobre o papel transformador da mulher nessa área, deverá mudar de opinião.

A jornalista, que já está vacinada contra o que diz serem comentários "ignorantes", conta em entrevista à DW que a sua vida profissional não é só receber safanões; também costuma ser "mimada" pelos homens nos campos desportivos.

DW África: Já foi confrontada com comentários desabonatórios ao seu trabalho por ser mulher?

Rosa Inguane (RI): Não direi completamente discriminatórios, mas meio que desprezando na perspectiva: "As mulheres também querem fazer jornalismo desportivo. Desporto é coisa de homens. Quem deve falar de desporto são os homens”.

Então, muito paternalista e pouco condescendentes, quando eu afinal estava apenas a fazer o meu trabalho, o melhor que eu sei.

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DW África: Como é que reage a esse tipo de comentários?

RI: Como sou daquelas que gostam de falar - a minha profissão é falar, sou jornalista - normalmente explico que o desporto é uma área social muito importante na sociedade, principalmente em Moçambique onde as maiores conquistas no desporto foram conseguidas por mulheres.

Temos uma campeã olímpica, que também foi campeã mundial. Senhoritas que jogam basquete ganharam também muitos títulos, representaram o nosso país em muitos fóruns. Temos também as meninas que são pugilistas, também já trouxeram muitos títulos inter-regionais e africanos para Moçambique.

Então, digo que a mulher no desporto não pode ser apenas aquela que joga e que pratica, mas também tem de ter voz. E nada melhor do que ser uma mulher a contar o que está a acontecer. No caso, contar o que as meninas estão a fazer no desporto. Mas de maneira geral, ter essa abordagem no desporto, seja praticado por homens ou por mulheres.

Então, constumo desqualificar esse tipo de comentário e acho até um pouco graça, porque revela alguma ignorância por parte de algumas pessoas que acreditam que há profissões e atividades que são só próprias para homens e outras para mulheres.

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DW África: E recebe elogios de homens?

RI: Sim, sim. Há algum tempo estava aqui em Nampula, no campo de futebol, a fazer comentários sobre um jogo – sou repórter faço diretos, comentários, reportagem normal. Então, estavam lá dois homens que, no intervalo do jogo, foram comprar-me água e refrescos porque diziam "toma água e refrescos para falares melhor”. Costuma ser assim, um pouco caricato. Mas em meio a esses comentários tristes, também há pessoas, homens e mulheres, que gostam do trabalho que as repórteres desportivas fazem.

DW África: Ouvi recentemente um adolescente dizer que não apreciava relatos de futebol feitos por mulheres porque careciam de algum vigor, algo indispensável nesses eventos. Tem também ouvido comentários semelhantes aí em Moçambique?

RI: Nem por isso. As mulheres também são muito corajosas e muito vigorosas. Principalmente quando estão empenhadas, fazem da melhor forma possível o seu trabalho. É verdade que os homens têm mais força física. Mas o trabalho, neste caso do jornalismo, de relatar ou de comentar, não exige nenhum esforço físico. Exige talento, criatividade, idoneidade. É assim que entendo.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África