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MPLA acusa UNITA de interferência: verdade ou estratégia?

17 de julho de 2024

Em Angola, o MPLA — partido no poder — acusa a oposição de interferência, mas analistas dizem que é o partido no poder que frequentemente interfere nos assuntos dos adversários.

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Em comunicado, o MPLA responsabilizou a oposição por intromissão nos seus assuntos internos, gerando desconforto entre os camaradas liderados por João Lourenço.Foto: Xinhua/IMAGO

Em comunicado no início de julho, o Grupo Parlamentar do partido responsabilizou os opositores por intromissão nos seus assuntos internos. No entanto, analistas e políticos ouvidos pela DW indicam que são os 'camaradas' que frequentemente interferem nos assuntos internos dos adversários, destacando um histórico de influência.

A UNITA criticou a divisão de Luanda como uma manobra para desviar a atenção da crise interna e má governação, sugerindo que o congresso extraordinário servirá para eleger um novo presidente para substituir João Lourenço, líder do MPLA e Presidente de Angola. Esta declaração gerou desconforto entre os camaradas liderados por João Lourenço.

Em comunicado de imprensa, o MPLA destacou que o seu principal adversário favorece uma narrativa que pode criar uma situação de subversão da ordem pública, em vez de promover uma oposição construtiva através do debate plural nas instituições democráticas.

UNITA contra-ataca

Em resposta, Evaldo Evangelista, secretário de informação e marketing da UNITA, esclarece que o seu partido limitou-se a comentar a questão da divisão político-administrativa do país, especialmente em Luanda.

DW Karikatur Piçarra, Sérgiol Angola - Abgeordnete nehmen ihr Amt an
Foto: DW

Evangelista recorda que é o partido no poder que interfere nos assuntos internos das organizações políticas da oposição, referindo o exemplo do congresso da UNITA anulado em 2021 pelo Tribunal Constitucional.

"Gostaríamos de recordar que o MPLA, na sua função de partido no poder, através do Tribunal Constitucional, interferiu nas questões internas do nosso partido ao anular um congresso democraticamente realizado pelos nossos militantes", afirmou.

Acusações de interferência

O político e secretário provincial do Partido de Renovação Social (PRS) no Huambo, Soliya Selende, partilha da mesma opinião. Segundo Soliya, é o partido no poder que tem contribuído para a desestabilização dos outros partidos em Angola.

"É o MPLA que cria partidos satélites antes das eleições, financia um ou outro partido como forma de diminuir os votos de alguns. É o que temos visto. Até imita bandeiras de alguns partidos da oposição. Os angolanos sabem que é oMPLA que espia os outros partidos", acusa.

Para o jornalista e analista político José Gama, as interferências são frequentes em vésperas de eleições. Gama observa que o primeiro passo para a interferência nos assuntos internos da oposição já foi dado.

Karikatur von Sergio Picarra | Wahlen in Angola
Foto: Sergio Picarra

"A legalização da Fundação Jonas Malheiro Savimbi, o patrono da UNITA, é um exemplo claro disso", diz José Gama.

A liderança do partido e da fundação estão em desacordo. Esta situação, segundo Gama, beneficiará o partido no poder e o seu presidente João Lourenço, que mantém uma proximidade com Isaías Samakuva, ex-presidente da UNITA que se opôs à Frente Patriótica Unida.

"E a divisão começa agora, ele [Presidente João Lourenço] antecipa a legalização da Fundação Jonas Savimbi, dá-lhe cobertura mediática, o que vai criar ciúmes na direção da UNITA e dividir o partido", explica o jornalista angolano.

Gama observa que esta prática é antiga no cenário político angolano.

"Já provocou tensões entre as duas alas da UNITA, tanto a liderança de Adalberto como a direção da Fundação Jonas Malheiro Savimbi, levando-as a fazer declarações públicas que evidenciam um clima de desentendimento dentro das duas estruturas", conclui.

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