Moçambique: Escolas reabertas sem condições após o ciclone
29 de março de 2023As aulas recomeçaram parcialmente em várias escolas de Quelimane, depois da passagem do ciclone Freddy, no início do mês. Mas os alunos estão a ter aulas em péssimas condições – na rua ou em salas sem teto. As escolas dizem que só estão a cumprir ordens superiores.
O governo pediu, os gestores escolares cumpriram. As aulas reiniciaram parcialmente nas escolas públicas de Quelimane.
O ciclone Freddy destruiu centenas de salas de aula; outras foram usadas como centro de acolhimento provisório para famílias que perderam as casas. Agora, há aulas que estão a ser ministradas em salas sem tecto ou na rua, por força da imposição do governo.
Carlos Rufai, chefe da secretaria da Escola Primária de Marrabo, lamenta as condições em que os alunos estão a estudar.
"Nós já arrancamos, embora não seja da forma que devíamos arrancar. Perdemos cinco salas de aula, mas como se disse que as aulas deveriam arrancar na segunda-feira, arrancámos parcialmente. Há alunos que estão debaixo das árvores, pusemos assim os alunos para podermos cumprir as obrigações do Ministério da Educação".
Numa ronda feita pela DW, na terça-feira (28.03), constatámos que as famílias vítimas do ciclone já tinham abandonado muitas das escolas que serviram de centro de acolhimento temporário. No entanto, faltava ainda desinfetar os locais, tendo em conta que Quelimane continua a registar centenas de casos de cólera.
Na escola primária de Sangarriveira, na cidade de Quelimane, fonte da direção disse à DW que foram os membros do conselho de escola e professores que juntaram dinheiro para desinfetar as instalações, por iniciativa própria. Mas as aulas também decorrem parcialmente.
"Não temos onde ficar"
Várias organizações da sociedade civil alertaram o governo que era demasiado cedo para retomar as aulas, pois seria ainda preciso reorganizar as famílias deslocadas noutros sítios.
Mais de 357 mil pessoas foram afetadas pelo ciclone Freddy, sobretudo na província da Zambézia. Cerca de 59 mil pessoas foram distribuídas por 151 centros em várias províncias.
Centenas de famílias que perderam habitações e que estavam acomodadas nas escolas de Quelimane foram, entretanto, transferidas para centros de reassentamento em Namitangurine no distrito de Nicoadala. Mas há também muitas pessoas que ficaram para trás e que precisam urgentemente de ajuda alimentar. Uma dessas pessoas é Hermínia Lemos.
"Viemos para esta escola, deram-nos corrida e estamos a sofrer com crianças, sentamos lá no mangal, mas não temos sítios nem para sentar. Não há casa, nem chapas, não temos onde ficar", revelou.
O governo prometeu kits de abrigo e alimentação para os mais carenciados.