1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Movimentação de suspeitos deixa população em pânico

Lusa
27 de fevereiro de 2024

A movimentação de elementos suspeitos de serem terroristas deixou em pânico a população do distrito de Ancuabe, província moçambicana de Cabo Delgado, disseram hoje à Lusa fontes da comunidade local.

https://p.dw.com/p/4cwwL
Vila de Metoro, em Ancuabe
Vista parcial de Metoro (imagem ilustrativa)Foto: Delfim Anacleto/DW

Um grupo não especificado de alegados terroristas foi visto pela população a atravessar a estrada Nacional 1 (N1) no domingo (25.02), a escassos metros da sede do posto administrativo de Metoro, no distrito de Ancuabe.

"Passaram perto da aldeia, ali nas bombas saíram do lado do distrito de Chiùre para o norte, todo o mundo abandonou o seu posto de trabalho. Aqueles que vendem cerveja e os guardas das bombas de combustível também fugiram", disse uma jovem de 32 anos, vendedora em Metoro.

Acrescentou que a distância entre o local da travessia e a sede do posto administrativo de Metoro é de 300 metros, o que aumentou o medo face a um possível ataque: "Sabem que 300 metros é mesmo na aldeia. Todo mundo fugiu para ir dormir. Mas acredite, eu pelo menos não apanhei sono".

Alguns populares veem esta movimentação dos terroristas, do distrito de Chiùre, sul da província, para a zona norte de Cabo Delgado como resultado dos ataques das Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique e das congéneres do Ruanda, no terreno, aos grupos insurgentes.

"Não é comum, mas acho que as FDS e do Ruanda estão a trabalhar sem piedade, espero que isso mude para o bem da população, que já não aguenta mais", lamentou a mesma fonte, a partir de Metoro.

Onda de ataques

A nova vaga de ataques terroristas em Cabo Delgado causou 58.116 deslocados em pouco mais de duas semanas, segundo estimativa divulgada hoje pela Organização Internacional das Migrações (OIM).

Em causa, de acordo com o boletim semanal daquela agência intergovernamental, estão ataques entre 08 e 25 de fevereiro, sobretudo nos distritos de Chiùre e Macomia, respetivamente com 54.534 e 2.626 deslocados naquele período, mas sobretudo crianças (35.295).

"Os ataques e o receio de ataques por parte de grupos armados" verificaram-se sobretudo em Ocua, Mazeze e Chiùre-Velho, no distrito de Chiùre, com os deslocados a fugirem para a vila de Chiùre (15.354) ou para Erati, na vizinha província de Nampula (33.218), acrescentou.

Os registos da OIM apontam para 11.901 famílias deslocadas em pouco mais de duas semanas de fevereiro no sul da província de Cabo Delgado.

No mesmo boletim, a OIM refere que entre 22 de dezembro de 2023 e 25 de fevereiro de 2024, "ataques esporádicos e medo de ataques" em Macomia, Chiure, Mecufi, Mocímboa da Praia e Muidumbe já levaram à fuga de 15.470 famílias, num total de 71.681 pessoas.

Ruanda está a fazer jogo duplo em Moçambique e na RDCongo?

Polícia em alerta

A polícia moçambicana disse na segunda-feira à Lusa que está a "filtrar" o movimento de deslocados provocado pela nova vaga de ataques terroristas dos últimos dias, sobretudo no distrito de Chiùre, à procura de eventuais insurgentes nesses grupos.

"Estamos a trabalhar com as comunidades, tendo em conta que temos de filtrar para poder perceber se neste grupo de regressados no distrito de Chiùre se encontram lá alguns infiltrados, alguns que podem estar associados ao terrorismo", disse o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) na província de Cabo Delgado, Aniceto Magome.

Vários ataques terroristas no sul de Cabo Delgado provocaram mortos entre a população nas últimas duas semanas em aldeias do distrito de Chiùre, levando à fuga de pelo menos 13.000 pessoas só para a vila de Chiùre, concentrados em campos de reassentamento instalados em três escolas, mas também em casas de familiares, segundo fonte da autarquia local.

O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou nas últimas semanas vários ataques e vítimas mortais, sobretudo no sul da província de Cabo Delgado, após um período de vários meses de acalmia.

A província enfrenta há seis anos alguns ataques reivindicados pelo EI, o que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos do gás.

Cabo Delgado: O conflito estará longe do fim?