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Morgues do Bengo sem espaço para novos cadáveres

António Ambrósio
11 de maio de 2023

Na província angolana do Bengo, famílias reclamam da falta de espaço nas morgues locais. Há corpos a aguardar por funeral desde janeiro, segundo fonte hospitalar. Governo prometeu construir morgue com maior capacidade.

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Morgue do Hospital Provincial do Bengo
Foto: António Ambrósio/DW

A ausência de manutenção no recinto e a não reclamação de corpos recolhidos na via pública em consequência de acidentes rodoviários são apresentadas como as duas principais razões para a falta de espaço nas morgues do Bengo.

"Desde as três horas que estamos a girar com o corpo, vamos no provincial, fomos na Açucareira e no Abel dos Santos dizem que não têm espaço. Isso é crítico, está muito mal. Queremos uma ajuda, não temos como fazer", lamentam familiares ouvidos pela DW África.

No Hospital Provincial do Bengo, por exemplo, 12 corpos aguardam pelo funeral desde janeiro. A informação foi avançada por uma fonte que trabalha na morgue, mas que preferiu não se identificar por receio de represálias.

Hospital Provincial Barra Dande tem capacidade para mais de 50 corpos
Hospital Provincial Barra Dande tem capacidade para mais de 50 corposFoto: António Ambrósio/DW

O que diz o Governo

Apesar desta realidade, o diretor do Gabinete Provincial da Saúde do Bengo, Domingos Goulão, avança que as autoridades têm garantido o cuidado dos cadáveres.

"Neste momento não temos cadáveres que ficam fora, temos feito um esforço. Claro, pode haver alguma sobrelotação, no entanto, as famílias fiquem descansadas. Tudo faremos para que a situação se resolva dentro do tempo", garantiu Goulão.

Ao nível do município sede da província, existem menos de 50 lugares para conservação de corpos. Domingos Goulão promete a construção de uma nova morgue.

"A província vai no futuro aumentar o número de gavetas e isso passa, necessariamente, por construir para aumentar esta capacidade, isso está em forja e a dada altura veremos o problema resolvido. Temos ajuda de outros municípios e também de Luanda", disse o diretor do Gabinete Provincial.

Diretor do Gabinete Provincial da Saúde do Bengo, Domingos Goulão
Diretor do Gabinete Provincial da Saúde do Bengo, Domingos GoulãoFoto: António Ambrósio/DW

Escassez não justificada

O analista e docente universitário Amílcar de Armando afirma que o governo deve repensar as políticas ligadas à saúde preventiva. "Se não há como garantir a saúde destas pessoas, que pelo menos quando morrem tenham um local condigno para ficar acomodado, portanto, pode acarretar outro tipo de saúde pública", apela.

Já o professor e analista Ngongo Mbaxi diz não compreender como é que o principal hospital da província não tem capacidade para dar resposta à procura.

"Não se pode admitir que o Hospital Provincial Barra Dande tenha capacidade para mais de 50 corpos e a sua morgue não tem capacidade para mais de 20 corpos. Não é possível. Essa desculpa de que há muitos corpos abandonados não colhe, até porque existem funerais de Estado", replicou Mbaxi.

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