Moçambique: População invade mina em protesto
19 de fevereiro de 2025A invasão da mina no distrito de Báruè, província moçambicana de Manica, para explorar os recursos existentes, aconteceu há três meses, com a população de Nhampassa a acusar o empresário que, desde 2007, explora turmalina, de não honrar os acordos com a população aquando da concessão.
Quando a mina foi concessionada, a empresa comprometeu-se a construir anualmente dez casas para a população, uma escola secundária e um hospital, além de reabilitar a estrada principal, abrir furos de água e comprar uma ambulância, o que não foi feito.
Matias Meneses, um dos representantes da população, está descontente com a empresa que, na sua opinião, seduziu a população e as autoridades locais ao fazer promessas que não chegou a cumprir: "A população está a reivindicar os seus direitos da exploração mineira", explica.
"A Sominha, como empresa, não cumpriu com aquilo que foi a promessa ao povo. Garantiu que ia fazer reassentamento, não fez e apoderou-se de machambas, daí que o povo tomou o poder da terra que é essa montanha. Nós somos nativos e naturais de Nhampassa e não vamos admitir que o Nadat [como é conhecido o proprietário da mineradora] volte a levar isso a favor dele", garante Meneses.
Apelo a conversações
Volvidos 18 anos, foram edificadas apenas seis casotas, ainda em fase de acabamento, o que levou ao descontentamento da população, que decidiu invadir a mina e explorar os recursos existentes.
Na sequência, o governo distrital de Báruè emitiu um comunicado no qual ordenava o abandono imediato da mina, mas a decisão não foi acatada pela população, pela reivindicação dos direitos não cumpridos.
Bernardo Tempo, outro representante da população, sugeriu a criação de uma associação para gerir a mina e os recursos de forma autónoma, apelando ao governo para intervir e buscar uma solução pacífica: "O que nós estamos a pedir é justamente para que haja uma conversação entre o povo e o governo", afirma. "Nem estrada ele fez, teve muitas promessas nessa comunidade, mas nenhuma coisa se concretizou", acrescenta.
Autoridades alertam para agravamento do conflito
David Franque, administrador de Báruè, reconhece que a empresa não cumpriu as suas obrigações de responsabilidade social. Segundo o responsável, a população invadiu a mina no período das manifestações pós-eleitorais e, na altura, não havia condições para negociação.
O empresário, diz ainda David Franque, não estava a implementar ações que beneficiavam a comunidade. "Ele [o empresário] estava a fazer umas casinhas, dizia que era para pessoas desfavorecidas, mas já era tarde. As pessoas invadiram aquilo", afirma.
Para o administrador, o conflito instalado entre a população de Nhampassa e a empresa concessionária revela falhas na implementação das acções de responsabilidade social e pode agravar-se, gerando consequências adversas para ambos os lados.
"Quando falámos com ele [o empresário], disse que quando voltar a explorar poderá acertar com a população para ver o que pode fazer no âmbito da responsabilidade social. Eles invadiram por esta razão: porque ele não estava a reparar para ninguém, só estava a reparar para a vida dele e as pessoas reagiram", conclui.