Ataques em Moçambique: Governo não deverá ceder a empresas
25 de junho de 2018Os ataques armados na província nortenha de Cabo Delgado, Moçambique, estão a ensombrar as atividades de prospeção e exploração dos recursos naturais na região.
Se, por um lado, as multinacionais que lá operam dão sinais de quererem congelar as suas atividades, por outro surge o receio de que as grandes empresas que estejam interessadas neste mercado possam usar o fator instabilidade para saírem favorecidas das negociações com o Governo.
Em Chemnitz, no leste da Alemanha, a DW África entrevistou Esperança Bias, ex-ministra dos Recursos Minerais e atualmente deputada pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, sobre a situação.
DW África: O norte de Moçambique está a ser alvo de ataques armados que estão a criar uma certa desestabilização e a pôr em causa, de certa maneira, o investimento ou interesse das multinacionais na área do gás. Como vê esta situação?
Esperança Bias (EB): Quero acreditar que esta seja uma situação temporária e que todos devemos trabalhar por forma a garantir que o projeto de Moçambique, que o programa do Governo, possa ser cumprido. Há um trabalho que o Governo está a fazer, e creio que também as próprias empresas devem apoiar o Governo de Moçambique, no sentido de fazer de Moçambique um destino privilegiado para o investimento e que investir em Moçambique é uma solução para muitos. Então, tem de haver aqui um apoio de todos na solução deste problema que infelizmente está a afetar Moçambique, particularmente a região de Cabo Delgado. E é importante que todos entendam que atrasar o desenvolvimento não traz apenas prejuízos para o Governo, traz também prejuízos para a população. Moçambique está carente de emprego e estes projetos também trarão emprego. [Os ataques armados] não são a melhor solução. Se há problemas que sejam resolvidos através de um diálogo, que sejam colocados os problemas a mesa para se chegar a um entendimento.
DW África: Aqui na Alemanha, neste encontro com representantes de empresas em que participou, percebeu-se do Governo moçambicano uma tentativa de vender Moçambique de uma forma positiva. Neste contexto, acha que isso pode funcionar? Os investidores não se sentirão retraídos com essa situação?
EB: Penso que o investidor tem de ter uma visão de longo prazo e não de curto prazo. E aqui aproveito para, mais uma vez, convidar os empresários alemães a fazerem investimento em Moçambique, irem diretamente a Moçambique e não através de outros países, porque Moçambique é um país independente, é soberano, tem as suas leis, tem o seu próprio ambiente e, portanto, não há necessidade de se ir a um terceiro país para chegar a Moçambique, não funciona. As portas de Moçambique estão abertas para a sua vinda direta. Empresas estão a trabalhar em Moçambique e acredito que grande parte delas não tiveram de bater a porta dos países vizinhos, vieram diretamente a Moçambique.
DW África: Em que medida os ataques armados podem prejudicar Moçambique nas negociações com aquelas multinacionais que ainda estão numa fase de negociação com o Governo e as que já estão no terreno?
EB: Em relação às empresas que já estão a investir em Moçambique, acho que esta questão que está a surgir no norte de Moçambique não deve ser vista como uma forma de retardar o investimento. Como eu disse, se não houver um trabalho conjunto, se não houver cometimento, não é Moçambique que perde, não é o Governo - estas empresas já investiram e querem o retorno do seu investimento. E este retorno só poderá vir num ambiente de paz e tranquilidade. Então, todos nós somos chamados... Quanto às empresas que ainda estão por vir, que considerem que o investimento é uma coisa de longo prazo, que não se investe hoje para ter o benefício hoje. É preciso investir hoje para o benefício ir acontecendo.
DW África: Mas essas empresas podem sentir-se em posição de vantagem, já que a região não tem segurança...
EB: Mas aqui penso que o Governo vai continuar com a sua postura de fazer valer as leis e os seus programas. Portanto, não é a situação que se está a viver em Cabo Delgado que deve enfraquecer o Governo, muito pelo contrário. E espero que as empresas entendam isso.