Moçambicanos refugiados no Malawi estão a regressar a casa
4 de fevereiro de 2025Os moçambicanos refugiados no Malawi devido à onda de violência pós-eleitoral no seu país já estão a regressar a casa. A informação foi avançada à DW pelo Alto Comissário de Moçambique no Malawi (em Lilongwe), Alexandre Manjate.
De acordo com o diplomata, desde que os distúrbios começaram após as contestações do candidato presidencial Venâncio Mondlane, mais de 13.000 moçambicanos fugiram para o país vizinho. Atualmente ainda estão na região de Nsanje, no sul do Malawi, cerca de 7.330 cidadãos.
Em entrevista à DW, Manjate garante que o Governo moçambicano está a criar as condições necessárias para o regresso dos seus cidadãos. "Estamos a trabalhar nisso. Os próprios refugiados estão interessados em regressar. Uma parte solicita o apoio das autoridades governamentais no sentido de criarmos condições para o efeito", afirma.
Entretanto, segundo o diplomata, os moçambicanos que ainda estão no Malawi estão a receber apoio de organizações internacionais, assim como dos Governos do Malawi e de Moçambique.
DW África: Qual é a situação dos moçambicanos refugiados no Malawi?
Alexandre Manjate (AM): Temos 7.330 moçambicanos na região de Nsanje, que é no sul do Malawi e faz a fronteira com o distrito de Mutarara, no lado moçambicano. Eles refugiaram-se como resultado dos distúrbios acontecidos após as eleições gerais.
No momento, eles contam com o apoio das várias organizações internacionais, do Governo do Malawi, e do próprio Governo de Moçambique.
DW África: Pode descrever com mais detalhes essa situação? Que tipos de apoios estão a receber? Onde é que estão alojados?
AM: A situação é estável. No início, havia muitos moçambicanos. O número chegava aos 13.000, mas agora estamos a falar daqueles 7.330. Isso quer dizer que um grupo considerável já está a regressar às suas zonas de origem em Moçambique.
Do ponto de vista do apoio, têm contado com apoio do próprio Governo do Malawi, do departamento de refugiados; da parte das Nações Unidas, tem o World Food Programme (Programa Alimentar Mundial) e o próprio ACNUR (Agência da ONU para Refugiados); assim como outras organizações não governamentais no terreno, que têm prestado apoio com produtos alimentares, tendas, cobertores, redes mosquiteiras e tudo mais do ponto de vista de saúde.
O principal apoiante é a Organização Mundial de Saúde, que abriu quatro clínicas especializadas no campo onde estão os refugiados para prestar apoio sanitário básico.
No que concerne ao Governo moçambicano, na semana finda, a presidente do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), na companhia de outros quadros, visitou a região. Lá, prestámos apoio com cerca de 72 toneladas de produtos diversos, como farinha de milho, arroz, feijão, sal, cobertores.
DW África: Queria que explicasse melhor, porque é que esses moçambicanos fugiram?
AM: O fluxo dos refugiados resultou da violência pós-eleitoral, devido à contestação do candidato Venâncio Mondlane às eleições. Alguns dos seus apoiantes violentaram os apoiantes do outro, neste caso do partido FRELIMO, do candidato Daniel Francisco Chapo.
Como Mutarara é um distrito fronteiriço com a região de Nsanje, muitos desses visados atravessaram a fronteira. Mas, como a situação se está a estabilizar paulatinamente, o número de refugiados vem reduzindo.
Acreditamos que nos próximos meses esta situação possa ser ultrapassada. É uma questão temporária – a própria ACNUR classifica esse fluxo como algo temporário. Então todos nós estamos a trabalhar no sentido de criar condições do lado moçambicano para que todas essas pessoas possam regressar.
DW África: O Governo então já aconselha o regresso dessas pessoas?
AM: Estamos a trabalhar nisso. Os próprios refugiados estão interessados em regressar à sua proveniência. Outros regressam por sua espontânea e livre vontade. Mas uma parte solicita o apoio das autoridades governamentais no sentido de criarmos condições para o efeito.
DW África: Que tipos de apoio se tem dado para o regresso dos refugiados?
AM: Estamos a trabalhar no pacote completo, criando condições do lado moçambicano, como a construção de casas. São as condições mínimas para as pessoas poderem estar lá a trabalhar e a viver. Então isso vai incluir também meios de transporte aos locais de origem.