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Milícias radicais recrutam jovens quenianos em Mombaça para a "guerra santa"

Antje Diekhans7 de março de 2014

Maior engajamento tem provocado aumento no número de ataques na segunda maior cidade do Quênia. Muitos jovens veem em grupos radicais uma forma de responder à violência do Estado.

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Treinamento militar de membros da Al-Shabaab na SomáliaFoto: picture-alliance/AP

A milícia Al-Shabaab tem recrutado jovens na costa do Quênia. Desde o ataque ao Centro Comercial Westgate em Nairóbi, no ano passado, muitas pessoas deixaram as localidades da região da costa do Quênia temendo que elas sejam o próximo alvo.

A milícia somali recruta jovens em locais turísticos. Forças de segurança patrulham praias para evitar novos ataques. Vários jovens quenianos já foram para a vizinha Somália para participar da "guerra santa".

Era uma sexta-feira, em Mombaça, e os muezins convocavam para as orações. A reportagem da DW África queria ir para a mesquita de Sakina, local de confrontos entre radicais mulçumanos e sacerdotes moderados nas últimas semanas.

Na ocasião, a polícia interveio e houve mortes. Ainda hoje os ânimos ainda parecem carregados. Os líderes evitam ir com a reportagem para Sakina.

"Isso pode ser impossível para você porque o coração do movimento dos muçulmanos em Mombaça é neste lugar e aqui tudo acontece. Então você deve imaginar que o FBI e a CIA fazem gravações e escutas por aqui", explicava o guia da equipe da DW.

Os taxistas também parecem não se convencerem facilmente a ir para o local. No entanto, após alguma insistência, um motorista de Tuktuk se diz em condições de conduzir a equipe à mesquita no seu triciclo.

Núcleo do terrorismo

O taxista alerta para esconder o microfone. É o período entre as orações da tarde e da noite. Rapazes estão em volta da mesquita, em frente às barracas de comércio abertas. Aparelhos de televisão são instalados. Nas telas, as imagens dos pregadores radicais durante seus discursos.

DVDs que mostram como fazer cintos explosivos são vendidos nos balcões das barracas. A turística Mombaça se transformou em um núcleo do terrorismo. A milícia radical islâmica Al-Shabaab, da vizinha Somália, estendeu-se pela área para recrutamentos.

Jovens têm desaparecido do dia para a noite. Eventualmente, suas mães recebem ligações telefônicas que informam que eles entraram para a "guerra santa". O grupo radical tem buscado novos soldados em outros resorts pela costa.

Diani, por exemplo, é um dos mais populares destinos turísticos para férias. Fica ao sul de Mombaça. A praia tem 25 quilômetros de extensão com pousadas e hotéis, além de muitos bares. Um deles foi alvo de ataque no início do ano. A bomba explodiu perto da mesa de bilhar, deixando dez pessoas feridas.

Outras vítimas

Sauma Mwachambuli mora numa vila pouco distante dos locais turísticos. No terreno em frente á casa crescem legumes e galinhas são criadas. O interior da residência é simples. Há um sofá cama para os hóspedes. A mulher, de 48 anos, vive com duas crianças.

Ela perdeu um terceiro filho. Suleiman tinha 22 anos quando morreu. "Ele era um bom menino. Eu nunca precisei me preocupar com ele. Ele me apoiava. Podia mandar ele fazer compras e ele sempre trazia os peixes mais frescos. Ele não tinha absolutamente nenhum hábito ruim", explica Mwachambuli.

Ele costumava ir para a mesquita e seguramente sua mãe não via isto como um problema. No entanto, naquelas mesquitas da costa é pregada a luta contra os descrentes. Há pouco emprego na região e as milícias se aproveitam disto.

É oferecido dinheiro para os jovens rapazes quando eles vão para a Somália para lutar contra as tropas do Governo somali e da União Africana.

"Um homem me ligou, dizendo que meu filho Imran estava morto. Eu não sabia no que acreditar. Afinal aquele não era o nome do meu filho. Então eu liguei para o homem novamente e ele explicou que Imran era o novo nome de meu filho na Somália. Eu não podia acreditar nele, que meu filho teria sido morto por Alá. Quando eu quis ligar novamente, ninguém mais atendia", lembra Mwachambuli.

O exemplo para os mais jovens

O pregador radical mais conhecido em Mombaça é Aboud Rogo. Ele foi classificado pelos Estados Unidos como terrorista. Estaria envolvido no primeiro grande ataque da Al-Qaeda na região, quando das explosões nas embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia. Os ataques mataram mais de 200 pessoas.

Aboud Rogo pode ser visto no DVD que os jovens na mesquita de Sakina assistem. No vídeo, ele prega contra os infiéis.

"Meus irmãos muçulmanos, é fato que os cristãos não gostam de vocês. Talvez nem do nosso profeta Maomé. Eles o definiram como um porco. Vocês querem isto? O único remédio contra um cristão é um rifle. As contas dos pregadores foram congeladas. Isto não o impediu de continuar solicitando auxílio da milícia Al Shabaab", Rogo prega em um dos vídeos.

Em um momento ele revela a interpretação dos radicais sobre o contexto de conflito em que vive a região: "Não fiquemos confusos. A guerra na Somália é contra todos nós. Então trata-se de uma guerra contra o Islão."

Em agosto de 2012, Aboud Rogo foi morto com quase 20 tiros que teriam sido disparados por um desconhecido. Seus apoiantes supõem que a Polícia Anti-terrorismo do Quênia queria assassiná-lo.

Violações de direitos

O cristão Francis Auma trabalha para a organização "Mulçumanos pelos Direitos Humanos" no Quênia. Juntamente com outros profissionais, ele publicou uma pesquisa sobre a Polícia Anti-terrorismo queniano. O resultado é que o Reino Unido e os Estados Unidos estariam "apoiando que a força de segurança empregasse tortura e assassinatos."

"Nós testemunhamos isto. Nós temos falado com familiares de vítimas e também com pessoas que foram até mesmo interrogadas pela Polícia Anti-terrorismo. Muitos denunciam tortura. Há casos em que as pessoas desaparecem. Nada disso é bom para este país", opina Auma.

Os ânimos ficam ainda mais agitados quando muitos jovens percebem que seus amigos acabam sendo presos. A aparente injustiça acaba servindo de combustível para a radicalização. "Os jovens estão cansados. A polícia mata. Então eles dizem: "se de qualquer forma eles consideram a nós, muçulmanos, como terroristas, nós podemos realmente entrar em grupos radicais e se matar."

Após a morte de Aboud Rogos, rapazes acabaram tendo este sentimento. Acima de tudo alguns líderes muçulmanos como Sheikh Abubakar Sharif Ahmed. Ele é conhecido como Makaburi, que em suaíli significa cemitério.

Sharif era um confidente de Aboud Rogo. Assim como seu amigo, ele está na lista de sancionados da ONU porque tem convocado as pessoas a lutar pela rede Al Qaeda e matar cidadãos norte-americanos.

O escritório de Makaburi é localizado no primeiro piso de um edifício de cinco andares. Na entrada há um portão de metal para garantir a segurança.

Câmeras internas não podem ser percebidas. Durante a entrevista à DW África, Makaburi fica sentado em frente às telas para examinar cada visitante antes de deixá-lo entrar. O jovem líder é desconfiado. Além de Aboud Rogo, outros de seus conhecidos também foram mortos.

Bandeira terrorista

O escritório que ele comanda é bastante estreito. Makaburi fica apertado em uma cadeira giratória. Ele transparece bastante respeito, apesar de usar uma camiseta branca com alguns furos com algumas manchas.

Sua barba é tingida de vermelho com henna. Na parede, há um cartaz com uma espada com letras árabes, que também é conhecida como "bandeira negra da Jihad". "Eles nos caracterizaram como terroristas. Se é assim, eu sou mesmo um terrorista. Eu vou concordar com isto em qualquer tribunal", desabafa.

Ele acha que os muçulmanos são um alvo e reclama do fato de pessoas inocentes serem mortas sem qualquer preocupação das autoridades ocidentais. Para Makaburi, os muçulmanos devem contra-atacar.

É isto que ele prega para muitos jovens que o enxergam como um modelo. "O que eu deveria fazer? Deveria dizer para eles continuarem desarmados enquanto o governo queniano os mata? Os jovens muçulmanos de Mombaça têm que lutar porque as suas vidas estão ameaçadas. Precisamos convocar a guerra santa no Quênia porque eles têm ficado sob pressão e até mesmo sido mortos."

Turismo ameaçado

Os ataques em Nairobi e a violência em Mombaça tiveram um efeito negativo para o Quênia como "paraíso de férias". Makaburi diz que o Governo ainda se mostra bastante seguro a nível internacional, mas muitos proprietários de hotéis na costa têm reclamado que metade de suas acomodações não é ocupada até mesmo na alta temporada.

Até agora, as muitas mesquitas de Mombaça e a cultura do Islão eram algumas das razões que faziam da segunda cidade do Quênia popular com turistas. Agora os hóspedes não aparecem mais com medo de sofrerem ataques.

A reportagem encontrou dois seguidores de Makaburi. Ambos com aproximadamente 20 anos. Eles parecem ainda mais suspeitos do que o pregador. Sem nomes, sem fotos... Um deles é um estudante de medicina que desistiu do curso porque a sua fé é mais importante.

"Meu primeiro objetivo é viver como um muçulmano. Exercer a medicina é um caminho diferente. A religião é um caminho para curar certas doenças do coração", conta o ex-estudante.

A conversa parece o maravilhar. No entanto, o efeito é diferente com seu amigo que não guarda por muito tempo a informação de que se sente perto da milícia radical Al-Shabaab.

"Al-Shabaab são muçulmanos. Nossos irmãos muçulmanos. Eles lutam por nossos direitos exatamente como a Al Qaeda. Se eu tiver a chance de lutar em qualquer lugar onde a Jihad tenha lugar, eu vou."

Seus olhos marejam quando ele diz isto. Será que ele quer se fazer de herói ou ele realmente tem isto em mente? "Eu estou pronto para morrer porque eu estou defendendo a minha religião. Se eu for morto pela Polícia Anti-Terrorismo ou se tombar durante a luta, me será garantido o caminho do paraíso."

Talvez ele vá em breve para a Somália. O quieto estudante de medicina foi visto pela reportagem algum tempo depois em um jornal queniano. Ele foi preso com outros, suspeito de planejar ataques terroristas.

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Os últimos levantes em Mombaça têm sido sangrentos e com certeza não serão os últimos.